Além de reduzir gastos com medicamentos e manejo, interrupção da imunização contra aftosa abrirá novos mercados para a carne brasileira
Há dois anos, o Paraná havia acenado com a possibilidade de retirar a vacinação
A recente decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de retirar a vacinação contra febre aftosa, a partir de novembro de 2018 – com o país sendo declarado livre da doença sem vacinação até 2020 – deve trazer novas perspectivas para a cadeia produtiva.
Antigo defensor da retirada da vacina, Sebastião Guedes, presidente o Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa) e vice-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), diz que a decisão é de todo o setor produtivo e trará economia de mais R$ 600 milhões por ano.
“Estamos jogando dinheiro fora há um bom tempo. O Panaftosa [Centro Panamericano de Febre Aftosa] diz que após quatro anos sem foco pode-se prescindir da vacinação. No Brasil há áreas com mais de duas décadas sem a doença”, alerta Guedes.
O executivo destaca também que a medida irá ajudar no ganho de peso dos animais e contribuirá para que o país alcance novos mercados para exportação. “Reduziremos muito as perdas de peso nas carcaças devido às lesões durante a vacinação e passaremos a atender as exigências de mercados altamente remuneradores, como Japão e Coréia do Sul”.
Portas podem ser abertas também na suinocultura. Guedes afirma que mais de 60% do mercado de exportação exige que não se vacine contra a doença.
Atualmente, Santa Catarina é o único Estado livre de aftosa sem vacinação no Brasil, status conquistado em 1999. “A região concentra mais de quatro milhões de cabeças e confirma que a retirada da vacinação é totalmente viável”, destaca executivo.
Há dois anos, o Paraná havia acenado com a possibilidade de retirar a vacinação, mas desistiu em função das obras de fronteira não terem ficado prontas dentro do prazo esperado. Segundo Guedes, outros Estados que surgem como principais interessados no assunto são Mato Grosso e São Paulo.
Estratégia – Em recente entrevista à Revista DBO, o Diretor de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Guilherme Marques adiantou que a retirada da vacinação contra febre aftosa no Brasil será feita em blocos, com as primeiras regiões atendidas sendo aquelas protegidas do ponto de vista geográfico. Respeitando esse quesito, a prioridade seria dada às áreas que não têm fronteira internacional no Norte, no Nordeste, Sudeste e parte do Centro-Oeste.
O CNPC acredita que o ideal seria iniciar a retirada por Estados que estão entre 15 e 20 anos sem focos da doença e concentram mais de 66 milhões de animais. Fazem parte desse grupo AL, BA, CE, ES, MA, PB, PE, PI, RJ, RN e SE.
No ano seguinte, a retirada aconteceria nos Estados de GO e MG, além do DF, que estão há mais de 20 anos sem foco da doença; PA (10 a 15 anos sem focos); e TO (entre 15 e 20 anos sem foco).
Por fim, no terceiro e último ano, parariam de vacinar os Estados de AM, MS, PR (há 10 ou 15 anos sem foco); AP, RR, RO, RS (de 15 a 20 anos sem focos); e AC, SP, MT (há mais de 20 anos sem focos).
Vale lembrar que além da meta da retirada da vacinação, o Mapa anunciou também a retirada do vírus C da composição da vacina, erradicado há mais de 13 anos da América Latina. Com isso, a dose do medicamento poderia diminuir de 5ml para 2ml, barateando seu custo em até 40%.
Guedes será um dos representantes do Brasil na reunião da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), entre os dias 3 e 7 de abril em Pirenópolis, GO. O encontro contará com representantes de outros 11 países sul-americanos, além do Panamá e tem como objetivo discutir as melhores estratégias para retirada da vacinação contra aftosa do Brasil.
Fonte: Portal DBO