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Presidente da ASBIA aborda desafios do setor em entrevista à A Granja

O presidente da Asbia, Sergio Saud, concedeu entrevista à revista AG e falou sobre a expectativa de crescimento do mercado de inseminação, preço das doses de sêmen, reflexo da nutrição na parte reprodutiva, mão-de-obra, dentre outros assuntos. Confira:

Revista AG – Como se comportou o mercado de inseminação no último ano?

Sérgio Saud – Tivemos um grande revés na economia em 2016. Foi um ano muito complicado para todos os setores, principalmente, no mercado de leite. De uma forma geral, aqueles produtores que se mantiveram na atividade usaram sua reserva de sêmen. Embora, provavelmente, esse seja um material mais antigo, de valor genético inferior, foi uma forma encontrada para não deixar as vacas vazias. Isso também impactou a comercialização de sêmen. Seguramente, a queda foi de dois dígitos.

Outro fator que a Asbia constatou foi que para reduzir os custos de produção, o pecuarista deixou de investir em sêmen sexado. Isso poderá surtir alguma consequência no mercado leiteiro, ocasionando, por exemplo, o nascimento de mais machos. Para o mercado de corte, as coisas não foram tão desanimadoras. Conseguimos manter a arroba estável os 12 meses, contudo, tivemos também, no fim do ano, uma ligeira queda nos preços do bezerro, algumas sinalizações de recuo no preço do boi gordo, mas ainda dentro da normalidade.

Os custos elevados de soja e milho acabaram prejudicando o confinador. Enfim, concluindo o balanço de produção de sêmen, foram produzidos 4,3 milhões de doses de sêmen (no primeiro semestre de 2016), o leite, com uma queda de 27% em relação ao ano anterior e o corte, com crescimento de 1%. Já no segundo semestre, nós identificamos que, por causa da seca que castigou o Centro e Norte do País, o gado estava muito magro e as fazendas tinham pouca oferta de pastagem, prejudicando o início da estação de monta. A compra que seria realizada nos meses de outubro e novembro, provavelmente será efetivada entre janeiro e março deste ano.

Revista AG – Podemos acreditar no crescimento desse mercado em 2017, ou é algo fantasioso?

Sérgio Saud – No segmento de corte, é possível. Contudo, o desempenho será tímido, em torno dos 3%, visto que registrávamos, anteriormente, crescimento na ordem dos 23%.

Revista AG – Em relação às curvas de desempenho de touros e sêmen, existe alguma correlação entre essas categorias? Se insemina mais, compra menos touro?

Sérgio Saud – Não necessariamente, pois muitas fazendas que adotaram programas deInseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) não deixaram de investir em reprodutores. Nós da Asbia desmitificamos essa ideia de quem investe em trabalhos de IATF não precisa ter touro. Isso não é verdade porque, ao fazer a sincronização das vacas, sabemos que, em média, 60% das mesmas estão prenhas nos primeiros seis dias. O criador tem a opção de ressincronizar os 40% restantes. Então, normalmente o que o produtor faz é utilizar o touro no repasse. Aí está a grande questão, como as vacas foram sincronizadas, elas estarão no cio ao mesmo tempo, ou seja, se a fazenda possuir poucos reprodutores, certamente muitas vacas ficarão vazias.

Revista AG – Aproveitando mais esse gancho, há criadores que estão realizando um trabalho de ressincronização. Qual sua avaliação sobre essa técnica?

Sérgio Saud – Existem fazendas trabalhando fortemente com a ressincronização, mas a grande questão é com respeito ao criador de gado de corte: por melhor que seja a qualidade do reprodutor, que muitas vezes é Nelore, esse animal pode fugir do objetivo, caso se vise aos programas de cruzamento industrial. Seria inseminar com Angus e fazer o repasse com Nelore. Isso quer dizer que, quanto mais o pecuarista fizer ressincronizações, mais produtos de cruzamento industrial terá. Se existe um mercado mais comprador desse produto, obviamente será mais interessante optar por essa técnica.

Revista AG – Você acaba de assucerca mir a presidência da Asbia. Quais serão os seus objetivos para tocar a entidade nessa gestão?

Sérgio Saud – A nossa meta para o triênio (2017-2019) é conseguir elevar em 4 milhões de doses a comercialização de sêmen. Acreditamos nessa possibilidade, pois há uma parcela substancial de pecuaristas que já ouviu falar em IAFT e cruzamento industrial. Esses produtores possuem o desejo de ingressar nesse mercado, entretanto, ainda estão ressabiados, tanto sobre os custos quanto em relação à eficiência da técnica em sua fazenda. Por isso, é fundamental prestarmos um bom auxílio a essas pessoas sobre a real importância da inseminação artificial (IA) e seus benefícios para a bovinocultura de corte e leite.

Seria relevante também que o criador pudesse realizar um test-drive com a IA e ver o quão é interessante para atividade pecuária. Ademais, nós entendemos que a IA é uma ferramenta barata, acessível, simples de ser adotada, que abre portas para outras tecnologias. Olhando detalhadamente, sabemos que há um universo de 30 a 40 mil criadores, com assucerca de 10 milhões de vacas, nesse perfil. Queremos atingi-los desenvolvendo muitas ações para estimulá-los a pesquisar, trocar informações, fazer contas e observarem o quanto o sistema é vantajoso. Um exemplo prático: em uma propriedade leiteira não tecnificada, a novilha produzida vai iniciar a vida reprodutiva perto dos 24 meses, quando será coberta por um touro.

Portanto, essa fêmea irá parir já com quase 36 meses de idade, enquanto uma novilha geneticamente melhorada, com 14/15 meses está dando cio e já pode ser inseminada. O produtor ganharia quase um ano de produção leiteira. Só isso já paga todo investimento, e com lucro. Estamos mostrando para o pecuarista o quanto ele deixa de ganhar sem um animal que produza mais cedo na fazenda. Na bovinocultura de corte, funciona da mesma forma.

Revista AG – Para enfrentar essa barreira da cultura do touro, a Asbia vai trabalhar com detalhes mais técnicos, apresentando números, entre outros fatores?

Sérgio Saud – É importante deixar claro que a inseminação não afeta diretamente o mercado de reprodutores. Precisamos é mostrar para o criador que a genética que ele está trabalhando quando adota um programa de inseminação é muito superior a de um touro adquirido. Além de ter um gado cobrindo a vacada e produzindo bezerros, é fundamental conhecer as crias que ele vai gerar, em termos de carcaça. Por isso, a genética é primordial para influenciar as ações da cadeia produtiva como um todo.

Revista AG – A mão de obra é um tema relevante e que precisa ser discutido. Como a associação vai contornar esse gargalo?

Sérgio Saud – Um ponto que trabalhamos há bastante tempo diz respeito aos cursos de IA. O nosso objetivo é homologar cursos e expandir essa formação técnica para todo o Brasil. Para conseguir isso, já estamos em contato com o Ministério da Agricultura e o conselho de veterinária, para que possamos ter o apoio dessas instituições no fomento da criação de novos cursos. A homologação proposta é para garantir a qualidade dos profissionais formados.

Revista AG – A Asbia disponibiliza cursos próprios ou são promovidos através das empresas parcerias?

Sérgio Saud – Eles são realizados por intermédio de parcerias com as empresas. O que pretendemos realmente é homologar os cursos, que terão um selo padrão Asbia de qualidade. Para conseguir essa certificação, é necessário promover um número mínimo de horas na parte teórica e prática, garantindo, assim, um programa didático e completo.

Revista AG – E em relação à nutrição bovina intrinsecamente ligada à taxa de prenhez, pois sem escore a vaca não emprenha. O pecuarista ainda está apanhando muito para compreender a relevância da alimentação das fêmeas?

Sérgio Saud – Aqueles que adotaram os programas de IATF já entenderam, porque isso fica mais evidente, no momento que criador passa a manejar mais o rebanho. Tradicionalmente, o pecuarista que faz o ciclo completo tem uma atenção muito especial com os bezerros, parte da recria e terminação. Porque teoricamente ele enxerga essa produção como fonte de renda, enquanto as vacas geralmente ficam no pior pasto, no canto da fazenda, pois são vistas como despesas. Ou seja, manter uma vaca na propriedade é gasto, já o garrote que será vendido para o frigorífico é visto como faturamento. Tal pensamento é errado, pois a vaca é a principal fonte de receita da fazenda, é ela que deveria ter o maior investimento. Quem conhece o trabalho de IATF muda sua visão e enxerga a fêmea como um caminho eficaz para melhorar sua lucratividade.

Revista AG – O mercado de nutrição animal prevê crescimento de 10% no consumo de sal mineral, principalmente do proteico-energético, em 2016. Algo atípico se for comparado com os resultados dos últimos anos. O fator seca pode ter sido o responsável por essa demanda expressiva?

Sérgio Saud – Eu acredito que sim. Inegavelmente, as indústrias terão um parecer mais apurado sobre as regiões do País onde a demanda cresceu e, assim, cruzar melhor os dados em relação à seca. Decerto, esse crescimento está relacionado a uma carência nutricional desses animais, que o criador tentou suprir com suplementação. O que merece grande destaque, pois mostra a preocupação dos produtores em manter o escore corporal do rebanho. Algo que não era constatado no passado, pois antes acreditavam ser melhor reduzir o rebanho, vender os mesmos ao investir em suplementação.

Revista AG – O preço do sêmen deve encarecer nos próximos anos?

Sérgio Saud – Vai depender muito nologias por trás da palheta. Também é importante esclarecer que mercado de genética possui muita dificuldade para reajustes de preço. Raramente, você consegue repor a inflação, algo que já nos deixaria satisfeitos. O sêmen não é um produto estático como uma lâmpada. Logo, esse material não pode ser tratado como uma commodity, em razão de cada palheta de sêmen de determinado reprodutor apresentar determinado benefício que outro exemplar não ofereceria. Estimamos que o valor médio da dose de sêmen de touro comercial esteja na casa de R$ 20.

Revista AG – Quanto à IA e à IATF, como está essa relação?

Sérgio Saud – No gado de corte, hoje, 80% das vendas já são para IATF e 20% para IA; no gado de leite, ocorre o inverso, sendo 60% para IA e 40% para IATF. Como o número de animais é menor e são acompanhados no curral, favorece-se a observação de cio. Mas acredito que é um quadro que deve mudar em pouco tempo. Na IATF, com um investimento de 60 a 80 reais, o pecuarista tem uma prenhez, mas ganha em giro de produto, economia de mão de obra que seria necessária na observação de cio e, tanto na IA como na IATF, agrega-se valor ao bezerro. Um animal sem qualidade genética é vendida a R$ 900 e um com qualidade, a R$ 1.200.

Revista AG – Mudando um pouco de assunto, por quantas anda a relação de vendas de sêmen entre Nelore- -Pista e Nelore Prova?

Sérgio Saud – Vem caminhando na ordem de 93% para Nelore-Prova e 7% para Nelore-Pista, mas entendemos que um não desmerece o outro, pois ambos têm importância. Algo que notamos na raça é uma pista mais conectada à produção a pasto. E aproveitando a deixa, é possível que a venda de sêmen Nelore reverta a sequência de queda registrada nos últimos anos.

Revista AG – Para encerrar, a Asbia prepara novidades para o mercado?

Sérgio Saud – Temos duasA que merecem destaque. A primeira é uma parceria que fechamos com o Cepea no Index-Asbia (o relatório de comercialização de sêmen), que nos permitirá antecipar as tendências no mercado da carne e do leite. O outro é o laboratório de análise de sêmen, no qual fechamos uma parceria com a ABCGIL para processar o sêmen dos touros Gir-Leiteiro participantes no teste de progênie.

Este é o número que Sérgio Saud espera agregar à comercialização de sêmen durante a gestão que assume na Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), o equivalente a um crescimento de 40%.

Fonte: A Granja