Técnicos e consultores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) realizaram na tarde desta segunda-feira (06) o segundo Fórum de Pecuária de Baixa Emissão de Carbono no estado do Paraná, com o intuito de apresentar tecnologias para o reaproveitamento dos dejetos de bovinos de leite e corte, visando uma produção mais rentável e sustentável. A ação aconteceu na Sociedade Rural do Paraná, na cidade de Londrina, com apoio do Sindicato Rural da cidade e também da Universidade Estadual de Londrina.
Na ocasião, o fiscal federal agropecuário do MAPA, Sidney Medeiros, iniciou o fórum mostrando os principais pontos do Plano ABC e do projeto Pecuária de Baixa Emissão de Carbono. “Os dejetos incluem o material excretado pelos animais (urina e fezes), cama utilizada, água (de consumo e lavagem das instalações) e alimento desperdiçados e pelos”, esclarece aos participantes.
Segundo Medeiros, além do problema das emissões de GEE, a simples aspersão dos dejetos bovinos em pastagens ou qualquer cultura, sem a adoção de práticas de manejo que possibilitem reduzir a transferência de contaminantes, pode aumentar o potencial de contaminação e colocar em risco a saúde dos animais e seres humanos.
Os consultores do MAPA também palestraram para mostrar maneiras viáveis de trabalhar com os dejetos. Cleandro Pazinato Dias, médico-veterinário e consultor do Projeto, apresentou o tema “Tecnologias de Produção Mais Limpa na Pecuária Intensiva”, com destaque para manipulação da dieta dos ruminantes. “Essa é uma das alternativas viáveis para diminuição da produção de metano, bem como redução das perdas energéticas pelo animal, já que uma nutrição adequada propicia o aumento das taxas de passagem e de fermentação e diminuição do tempo que o alimento permanece no rúmen. Essas condições reduzem a quantidade de hidrogênio disponível para produção de metano”, explica.
A palestra “Geração de Renda a partir dos Dejetos da Pecuária: Biofertilizante, Biogás e Energia Elétrica” proferida pelo médico-veterinário e consultor do MAPA, Fabiano Coser, trouxe o aproveitamento econômico por meio de processos tecnológicos. O tema abordou a separação de dejetos, biodigestores e produção de biogás, seu uso, bem com a compostagem dos dejetos e o uso dos biofertilizantes. “Existem muitas estratégicas para mitigação de metano. Cada uma apresenta suas vantagens e desvantagens, custos de implantação e aceitação pelos produtores. Para uma escolha adequada de qual estratégia adotar, se faz necessário ponderar a capacidade dela de reduzir as emissões juntamente com sua viabilidade econômica e influência sobre o desempenho animal”, resume.
O encontro também contou com conteúdo do pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcelo Otênio que abordou o manejo de resíduos em sistemas de produção de leite: limpeza hidráulica dos pisos e produção de biofertilizante. Segundo o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Afrânio Brandão, “trazer um fórum para o estado é de grande importância, pois sabemos que bons projetos podem ser montados em nossa região, dado os exemplos que já encontramos de produtores que aplicaram tais tecnologia em suas propriedades e estão tendo resultados comprovados”, destaca.
Já o professor e diretor do departamento de zootecnia da UEL, Alexandre Oba, destacou a produção do futuro. “Os estudantes presentes levaram informações valiosas que serão necessárias para a adequação das propriedades para implantação de sistema que atendam a bovinocultura de leite ou corte”, reforça. “Para nós é fundamental munir os alunos com informações e tecnologias que serão a realidade da produção nos próximos anos”, completa.
Os técnicos e consultores também terão a oportunidade de revisitar uma das fazendas que fez parte do levantamento de tais tecnologias que reduzem a emissão de carbono e favorecem o aproveitamento econômico dos resíduos da produção de bovinos de corte e de leite em sistemas confinados, realizado pelos consultores do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A Fazenda Santa Alice, no município de Leópolis no extremo norte do estado do Paraná, atua no confinamento de gado de corte para acabamento. Desde 2011, a empresa utiliza sistema biodigestor para tratar os dejetos da produção e aplicar na lavoura de soja e milho e ainda gerar energia reduzindo o custo da produção.
O projeto para transformação dos dejetos em biogás começou em 2011 e hoje já produz energia para toda a fazenda. “Operando com menos da metade de nossa capacidade conseguimos produzir toda a energia necessária para a propriedade”, explica Leomar Monteiro. A Fazenda contou com o financiamento do Programa ABC para dar início a adaptação, que hoje conta também com a geração de biofertilizante líquido e sólido direcionado para o melhoramento das pastagens e também da produção de grãos.
Plano ABC
O Projeto “Pecuária de Baixa Emissão de Carbono: geração de valor na produção intensiva de carne e leite”, visa, ao longo de um ano, avaliar e disseminar alternativas economicamente viáveis para o tratamento de dejetos na pecuária, como parte do Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas Visando à Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura). O Plano é uma política pública composta de um conjunto de ações que visam promover a ampliação da adoção de tecnologias agropecuárias sustentáveis com alto potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa de combate ao aquecimento global.