Que as práticas sustentáveis na produção brasileira de carne bovina são uma realidade, todos os elos da cadeia já sabem. Mas a necessidade de projetar essa imagem aos consumidores e melhorar a comunicação entre os setores, ainda é um desafio. Como o próprio Nizan Guanaes, fundador do Grupo ABC já retratou em uma de suas palestras, o agronegócio brasileiro é bom de story doing e ruim de story telling. Esses assuntos estiveram no centro das discussões no evento de comemoração aos 10 anos, do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), que ocorreu durante a etapa paulista do circuito InterCorte 2017.
O “GTPS 10 Anos” contou com a participação de importantes nomes do agronegócio, discutindo os avanços da pecuária nos últimos dez anos além do futuro e novos desafios, inclusive a democratização do acesso à ferramentas de compliance socioambiental.
Dividido em três grandes painéis, o evento trouxe luz à importância da comunicação entre todos os elos da cadeia – especialmente o consumidor final – para o desenvolvimento da cadeia de valor. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), estima-se que em 2050 seremos cerca de 9,5 milhões de pessoas no mundo. Para isso, há necessidade de elevar a produção de alimentos em 70%. Soma-se a isso, a premissa de avançar sem comprometer os recursos naturais.
Todos esses quesitos já estão no radar da cadeia produtiva brasileira, especialmente, nos últimos 10 anos, quando foi criado o GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), a primeira Associação em formato de mesa redonda, desenvolvida para discutir e orientar todos os elos da cadeia sobre práticas de pecuária sustentável.
Desde então, os avanços foram significativos. Nos últimos anos, a produção de carne bovina conseguiu importantes incrementos de produtividade – chegando a 230% em alguns casos – mas ainda há muito a se fazer. De um lado, ainda existem diversas normas que a maioria dos produtores rurais ainda desconhecem, “gerando complicações de acesso ao crédito e/ou dificuldade na comercialização de seus produtos, entre outros”, destaca Breno Felix, da Agrotools, um dos painelistas do evento. Na outra extremidade, temos “o consumidor final que nem sempre entende o que é sustentabilidade, e por isso, ainda não está disposto a bancar os custos inerentes de uma produção ambientalmente responsável”, lembrou o debatedor, Leonardo Lima, da Arcos Dorados.
Levar essas informações imprescindíveis a todos os elos da cadeia, promovendo um debate que atenda os anseios de todas as classes, é o objetivo principal do GTPS. “As pessoas precisam saber que há produção sustentável aqui. O Brasil é a maior potência agroambiental do mundo, e é nosso papel, e do GTPS, fazer essas informações difundirem”, destacou o produtor rural, Caio Penido, do Grupo Roncador.
Embora mais de 60% do território nacional seja floresta nativa e nosso Código Florestal esteja entre um dos mais rigorosos do mundo, a imagem da carne brasileira no mercado externo ainda é associada a más práticas de produção. “Se temos dificuldade de fazer as informações correrem nos quatro cantos do Brasil, imagine lá fora. Precisamos começar a falar para o mundo todo das coisas boas, e parar de reagir apenas as notícias ruins. O que temos aqui é mais valioso do que em qualquer país”, destacou Thais Fontes, do Rabobank.
Diante de todos os desafios expostos, o GTPS propôs com metas de trabalho para os próximos anos, três grandes frentes de atuação: engajamento e melhoria continua, com a utilização de ferramentas já existentes, como o GIPS (Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável), o Mapa de Iniciativas e o Manual de Práticas; Conteúdo, consolidando e compilando as informações relevantes e confiáveis, além de demandar estudos da cadeia acadêmica; e por fim, comunicação e relacionamento, trabalhando os discursos de todos os elos da cadeia de forma alinhada, com objetivo de fortalecer mensagens positivas que também contribuam para um posicionamento setorial.
“A história do GTPS é uma prova do avanço da cadeia pecuária, mas queremos continuar avançando, e para isso, precisamos fortalecer esses três pilares. Essas serão nossas diretrizes para os próximos anos”, ressaltou, Beatriz Domeniconi, coordenadora executiva do Grupo de Trabalho.
No evento em comemoração aos 10 anos, o GTPS também lançou a plataforma do Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável, uma ferramenta desenvolvida em conjunto por todos os elos da cadeia produtiva, que possibilitará o trabalho de assistência técnica em larga escala. Com ele, os produtores terão a oportunidade de se auto avaliar de forma rápida e segura. “A ideia do sistema é que ele funcione tanto no desktop, quanto mobile, facilitando o acesso do produtor rural”, conta Breno Felix, que participou da comissão de desenvolvimento da plataforma GIPS. Foi divulgado também o lançamento oficial da disponibilização do TerraSafe através da Serasa Experian. Trata-se de um produto da AgroTools em parceria com a Serasa, para verificação do Compliance Socioambiental de propriedades e do produtor rural, democratizando o acesso de forma simplificada à relatórios fundamentais para as corporações do agro.
O evento “GTPS 10 Anos” é uma realização do GTPS com patrocínio do WWF Brasil, Santander, AgroTools, Serasa Experian, Elanco, Sindicato Rural de Campo Grande (MS), Federação de Agricultura do Mato Grosso do Sul (FAMASUL), Arcos Dorados, Norvida, Acrimat, Wessel e Novilho Precoce.