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Ovinocultura e valor agregado

Ações para o desenvolvimento do agronegócio no Rio Grande do Sul colocam produtores rurais gaúchos em condições de competitividade internacional, usando tecnologias, gestão empresarial e processos de pesquisa como ferramentas de qualidade e inovação.

No cardápio das tendências gastronômicas para chefs de cozinha mundo afora, a carne de cordeiro recebe um tratamento diferenciado. Seu paladar marcante e ao mesmo tempo aberto ao leque de harmonizações variadas com bebidas são registros dos especialistas. A produção de lã natural e a sua exigente qualidade para tecer bases do mundo fashion não fica atrás. Na lista dos caçadores de valor agregado e inovação, esses são apenas dois dos olhares possíveis para a ovinocultura e suas possibilidades de negócios agroindustriais. E exatamente nesse contexto que trabalham produtores, gestores, técnicos, pesquisadores e empreendedores comprometidos com o desenvolvimento econômico gaúcho. E os resultados são positivos. Mais do que isso, são promissores.

A partir do cronograma desenvolvido em projetos coordenados pelo Programa Juntos Para Competir, onde atuam FARSUL, SENAR-RS e SEBRAE/RS, as potencialidades de negócios para os criadores de ovinos se tornaram ainda mais vantajosas. Com um rebanho atualmente de cerca de 4,2 milhões de cabeças, o Estado já pode ser considerado um ponto atraente para investimentos nesse segmento. Pelo Programa, a cadeia produtiva está cercada de iniciativas que vão desde capacitações até consultorias para melhorias de gestão, integração, qualidade, melhoramento de produto, pesquisa e inovação.

O coordenador estadual da carteira de projetos da ovinocultura junto ao SEBRAE/RS, Roberto Grecellé, observa que todo o trabalho até então realizado parte de pressupostos relevantes, tais como o respeito à tradição ovelheira e a cultura gaúcha, uma das mais antigas do Brasil. “A criação ovina é uma cultura que já ultrapassou mais de um século de existência sem nunca ter sido abalada na qualidade dos rebanhos. Contudo, as evoluções tecnológicas de manejo de solo e de animais são significativas. Elas correspondem às demandas cada vez mais exigentes de mercados nacional e internacional”, comenta. Não por acaso, as ações, hoje, envolvem 490 propriedades rurais divididas em diferentes grupos.

Como se trata de um esforço coletivo de qualificação da produção, os trabalhos possuem diretrizes para qualificar tecnicamente os sistemas de produção de ovinos, aprofundando os aspectos de gerenciamento, com o objetivo de agregar valor na busca da organização dos processos de comercialização. “Dito de outra forma, ao valorizar a carne ou a lã, por exemplo, a renda do negócio é maior. Por sua vez, a satisfação dos empreendedores e de seus clientes deve estar no foco de resultados que serão benefícios gerais para todos, desde o trabalhador nas fazendas, até um chef que executa uma receita com o melhor pernil do mercado”, avalia Grecellé.

Ao longo de 2015, somente na questão de cursos técnicos acompanhados pelo SENAR/RS foram mais de 100 horas/aulas de capacitações, como manejo de recursos forrageiros para ovinos, terminação de cordeiros, tosquia Tally hi, manejo reprodutivo e outros. Ao SEBRAE/RS coube ações como diagnóstico da propriedade rural; consultorias tecnológicas (reprodução, sanidade, alimentação e produção pecuária) e específicas em ovinocultura (desmame, gestação e pré-encarneiramento); aplicação da solução “Índice de Sustentabilidade da Empresa Rural”; mais de 20 dias de campo; roteiro de visitas com produtores, incluindo laboratórios da Embrapa Pecuária de Corte, com foco em programas de controle estratégico da verminose e laboratório de carnes para conhecer projetos de agregação de valor.

Além disso, houve uma dezena de agendas técnicas. “Vale lembrar uma visita até a Estação Experimental Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na cidade de Eldorado do Sul, com o objetivo de conhecer o modelo de pastejo ‘rotatínuo’, que vem sendo pesquisado e proposto pelo professor Paulo Carvalho, respeitado estudioso”, reforça o coordenador, salientando que as iniciativas do Programa Juntos Para Competir projetam fomentar o espírito da coletividade, aperfeiçoar a comercialização de animais e lã, profissionalizar as unidades produtivas com mais visão empresarial e fortalecer os núcleos regionais de ovinocultores.

Um bom exemplo de resultados das ações pode ser avaliado na propriedade do produtor do município de Santa Maria, Gilberto Ilha Pozzobom. Ele alcançou um diferencial de mercado graças a uma consultoria que possibilita o acompanhamento técnico e gerencial de seus rebanhos. O atendimento realizado por médicos veterinários, consultores credenciados pelo SEBRAE/RS, ocorrem em três momentos: antes do período reprodutivo do rebanho (avaliação reprodutiva e do estado de saúde dos animais pré-acasalamento), durante a gestação (identificação dos animais prenhes e organização da parição) e no desmame (avaliação e organização dos lotes de cordeiros produzidos).

Com isso, a eficiência reprodutiva do rebanho é elevada em quantidade e qualidade dos animais produzidos e comercializados. Pozzobom teve aumento de 100 para 130 cordeiros nascentes ao ano com as mesmas 90 matrizes (ovelhas reprodutoras). “Aproximadamente 40% de seus animais têm partos gemelares (duplos). Isso significa que ele consegue cobrir vazios de mercado, reduzindo muito a sazonalidade, já que o mais comum é ter cordeiros para comercializar no final do ano, entre novembro e janeiro”, detalha o coordenador do SEBRAE/RS.

(Intertítulo): Para 2016, um setor que não estará em crise

Seguindo a lógica econômica de que o agronegócio é um dos setores que consegue se manter em crescimento, mesmo com as turbulências do cenário instável brasileiro, os projetos com foco na ovinocultura permanecem na
agenda das entidades FARSUL, SENAR-RS e SEBRAE/RS enquanto parceiras do desenvolvimento. Segundo Grecellé, a manutenção e o aprofundamento das ações estão garantidas para 2016. “Deveremos ter a realização de pesquisa do perfil do consumidor de carne ovina e dos hábitos de consumo dessa proteína em cinco importantes centros de compra do Rio Grande do Sul. Também deveremos consolidar uma análise de competitividade das pequenas indústrias da cadeia da carne ovina com identificação de fatores de sucesso da atividade frigorífica”, exemplifica.

Entre as consultorias especializadas, deverão ocorrer algumas para as indústrias frigoríficas (gestão, qualificação e agregação de valor), bem como estímulos para formas alternativas de consumo. “Poderemos, por exemplo, contar com a criatividade dos chefs de cozinha. E também devemos ter ações
para melhor explorar o potencial das compras governamentais, uma vez que há um tratamento diferenciado para as micro e pequenas empresas”, finaliza o gestor.

Confira os cinco grandes grupos onde ocorrem as ações ligadas à ovinocultura:

– Desenvolver a Ovinocultura na Metade Sul: com 150 propriedades em Santana do Livramento, Quarai, São Gabriel, Lavras do Sul, Bagé, Pedro Osório, Pinheiro Machado e Rosário do Sul;

– Desenvolver a Pecuária Sustentável no Pampa Gaúcho: com 50 propriedades em Caçapava do Sul, Alegrete, Cacequi, Lavras do Sul e Rosário do Sul;

– Qualificar a Ovinocultura da Região Centro: com 87 propriedades em Pinhal Grande, São Sepé, Santa Maria, Quevedos e Santiago;

– Desenvolver a Pecuária de Corte da Região Sul: com 100 propriedades em Camaquã, Capão do Leão, Herval, Mostardas, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte, São Lourenço do Sul e Tavares;

– Outros projetos: com 70 propriedades em atendimento continuado a grupos de ovinocultores dos campos de altitude e dos Vales do Rio Taquari e Rio Pardo.