O uso da ureia na nutrição bovina e sua viabilidade econômica

por Breno de Lima, Analista de mercado da Scot Consultoria

A ureia é um subproduto do petróleo obtido através da síntese de amônia e gás carbônico em um processo industrial com temperatura e pressão controladas.

Por ter alta concentração de nitrogênio em sua composição, seu uso se concentra tanto na agricultura como na pecuária.

Na nutrição de ruminantes, seu papel é fornecer nitrogênio não-proteico na dieta, que após a ação de microrganismos ruminais é transformado em proteína microbiana, considerada uma proteína de alta qualidade.

Vale lembrar que em uma dieta de ruminantes, o nitrogênio pode ser disponibilizado tanto pelas proteínas verdadeiras, presentes em farelos e forragens, como pelos compostos nitrogenados não-proteicos, caso da ureia.

Diante disso, a ureia se apresenta como uma alternativa ao uso de farelos como fonte de proteína na dieta de ruminantes.

Apesar de historicamente o preço pago pela tonelada de ureia ser maior do que outras fontes de proteína comuns em dietas de ruminantes, como farelo de soja e farelo de algodão, quando convertemos os alimentos em quilo de proteína bruta, a ureia é mais viável economicamente.

Isso ocorre em função do alto teor de nitrogênio em sua composição, em torno de 42 a 47%, que equivale em média a 280% de Proteína Bruta por 100 gramas de ureia. O farelo de soja e o farelo de algodão têm em média 45% e 38% de Proteína Bruta, respectivamente.

Figura 1. Série histórica de preços médios dos alimentos proteicos, em R$/tonelada, em São Paulo, deflacionados pelo IGP-DI.


Fonte: Scot Consultoria

Figura 2. Série histórica de preços médios do quilo de proteína bruta (PB) dos alimentos proteicos, em São Paulo, em R$/kg de PB, deflacionados pelo IGP-DI.


Fonte: Scot Consultoria

Note que apesar de historicamente a cotação da tonelada da ureia ser em média 50,7% maior do que o farelo de soja e 62,4% maior do que o farelo de algodão, o preço pago por quilo de proteína bruta é 67,4% menor do que o farelo de soja e 63,9% menor do que o farelo de algodão.

É evidente a vantagem da utilização de ureia na alimentação dos rebanhos de corte e leite, e somada a essa viabilidade econômica positiva, o fato do uso ser simples e acessível a qualquer produtor, a torna uma opção a ser considerada.

As formas de utilização, para nutrição de bovinos, são várias e as mais comuns são a associação ao suplemento mineral, incorporação na composição de misturas múltiplas (rações), associação com cana-de-açúcar e associação com silagem.

Seu maior uso se concentra nos períodos secos do ano, pois a ureia corrige os níveis de proteína da forragem, que são reduzidos nestes períodos, aumentando seu consumo e aproveitamento, além de proporcionar ganho de peso aos bovinos.

Apesar de bem aceita e muito utilizada, por apresentar risco de intoxicação quando mal manejada, seu uso exige cuidados.

Quadros de intoxicação por ureia geralmente são ocasionados por consumo excessivo.

Neste caso, há um acúmulo de amônia no rúmen, que eleva o pH neste compartimento e dessa forma ocorre uma absorção maior do que a capacidade de processamento do fígado, resultando em acúmulo de amônia no sangue, podendo levar o animal ao óbito.

Outro fator que pode levar ao quadro de intoxicação são erros de formulações, de rações e suplementos, em relações a quantidade mínima de carboidratos necessária para gerar energia para os microrganismos utilizarem a amônia liberada no rúmen.

A forma como a ureia é fornecida e disposta aos animais também pode causar transtornos.

Regras de segurança devem ser obedecidas, como, adaptação com aumento gradativo de fornecimento; quando servida em quantidades maiores deve-se parcelar o seu fornecimento; evitar o acúmulo de água nos cochos; sempre misturá-la uniformemente aos alimentos, para obter uma ingestão regular; não fornecer para bovinos jovens, que ainda não tem o rúmen totalmente desenvolvido.

Outras diretrizes com relação às quantidades na dieta também devem ser seguidas, tais como, limitar entre 1 a 1,5% a ureia na matéria seca da dieta total dos bovinos; limitar em até 5% a ureia no concentrado quando fornecida separada do alimento; limitar entre 30 a 50% de nitrogênio da ureia em relação ao nitrogênio total da dieta.

Por se tratar de um produto higroscópico e solúvel em água, cuidados em seu armazenamento também dever ser tomados a fim de evitar perdas.

E para potencializar o uso também é necessário a adição de fontes de energia na dieta e de fontes de enxofre, para que as bactérias ruminais consigam sintetizar aminoácidos sulfurados.

A fonte de enxofre mais utilizada é o sulfato de amônio e recomenda-se uma relação de nove partes de ureia para cada parte de enxofre (10:1).

Conclusão

A ureia é uma fonte de proteína bruta que devido a sua viabilidade econômica pode substituir parcialmente outras fontes de proteína na dieta, tais como os farelos de algodão e de soja.

Desde que se tenha o cuidado com o seu armazenamento e se cumpra as exigências de segurança para seu uso na dieta, a ureia é uma boa opção para a nutrição de ruminantes.

Fontes:
Uréia na alimentação de ruminantes.
Autores: Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves; Júlio César Teixeira; Flávio Moreno Salvador

Utilização da uréia na alimentação de ruminantes no semi-árido
Autores: Luiz Gustavo Ribeiro Pereira; Roberto Guimarães Júnior; Thierry Ribeiro Tomich

Uréia – ferramenta ou arma?
Autor: Marcelo Manella

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