Nutrição e genética: como elas influenciam na produtividade

Por Larissa Vieira

Não há melhoramento genético que resista à fome ou a um manejo nutricional inadequado. Evolução genética e manejo nutricional adequados precisam, necessariamente, andar juntos para o sucesso do empreendimento pecuário. Quem garante é o superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Antonio Josahkian. Ele explica que a genética, como ciência, é ainda muito recente. Contudo, poucas áreas do conhecimento evoluíram tanto nos últimos anos. “Estamos nos aproximando cada vez mais em conhecer com exatidão o real valor genético dos indivíduos”, assegura.

Os pesquisadores descobriram, ainda no início do século XX, quando as primeiras formalizações da ciência como genética se estabeleceram, que ter gado gordo no pasto nada mais é que o resultado de uma famosa fórmula: F = G + A. “O que significa isso? Significa que os valores reais que obtemos, os Fenótipos (F), tais como peso, ganho em peso e produção de leite, dentre outros, são o resultado de um componente Genético (G) em interação com o Ambiente (A)”, explica Josahkian.

Na prática, essa fórmula significa que os melhores resultados possíveis são obtidos com a genética mais adequada a cada ambiente, que é tão limitador quanto a genética do animal. “Entre os efeitos ambientais mais expressivos está a nutrição. Sem um manejo correto, não há como essa genética de qualidade ser revelada no rebanho”, acrescenta.

Em seu programa de melhoramento genético, o PMGZ, a associação conta com ferramentas que avaliam o quanto o animal ganha de peso, tanto no confinamento quanto a pasto. São as Provas de Ganho em Peso, que existem desde 1972 e já avaliaram mais de 100 mil animais das raças zebuínas. Em 2017, a maior associação de criadores do País vai incorporar a seu Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens, o PNAT, uma prova de eficiência alimentar. A iniciativa atende a uma exigência do mercado, que procura animais cada vez mais produtivos. “É uma característica de grande impacto econômico nos sistemas de produção, pois produzir carne consumindo cada vez menos recursos implica maior eficiência e, consequentemente, menor impacto ambiental e maior lucratividade para o criador”, define Henrique Ventura, Superintendente Técnico-Adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ.

O criador José Luiz Niemeyer dos Santos, da Fazenda Terra Boa, que teve animais classificados nas últimas duas edições do PNAT, comemorou a mudança. “Eu acho que a ABCZ tem que acompanhar toda demanda de mercado, utilizando a tecnologia disponível. Nossa pecuária muda constantemente e caminha para um sistema cada vez mais intensivo. Precisamos cada vez produzir mais em uma área menor e em um menor espaço de tempo. E a eficiência alimentar é fundamental para isso”, afirma.

Quem também investe na prova de eficiência alimentar é o PAINT, Programa de Melhoramento Genético para Bovinos de Corte da CRV-Lagoa, que, há 22 anos, trabalha com foco na identificação de animais geneticamente superiores. “A pecuária moderna e eficiente busca um animal que tenha rápido desenvolvimento, mas que esse desenvolvimento, que é convertido em peso, seja bem distribuído em uma carcaça moderna, com desenvolvimento adequado. O peso de um animal de corte é identificado na indústria através de sua carcaça, que deve ser grande, com amplo desenvolvimento muscular e deposição de gordura condizente”, explica André de Souza e Silva, gerente do PAINT.

O programa está desenvolvendo a utilização da eficiência alimentar através de medições com equipamentos específicos para esta finalidade, que foram instalados na CRV Lagoa, em Sertãozinho/SP. São avaliados animais das raças Nelore, Senepol e, também, de cruzamento Angus.

Para Silva, as características, como o GND (ganho do Nascimento a Desmama), o GPD (Ganho no Pós-Desmame) e o GNS (Ganho do Nascimento ao Sobreano), que sofrem maior influência da nutrição, representam 46% do PAINT de um animal avaliado dentro do programa. Já 36% correspondem às características morfológicas, que mostram como está disposto o peso do animal em três características: conformação, que é o espaço que o animal ocupa, precocidade de acabamento da carcaça e musculosidade.

Na Agropecuária Jacarezinho, nas fazendas em Barreiras (BA), Porto Feliz (SP), Coxim (MS) entre outros pólos de pecuária, nutrição e genética de qualidade são as molas propulsoras para manter em funcionamento o mega projeto de produção de touros e fêmeas geneticamente superiores. São 23 anos de seleção e uma produção de 23 mil matrizes, número que o criatório pretende dobrar, além da meta de produzir 4 mil touros a partir de suas matrizes avaliadas. Para garantir que os animais expressem sua real qualidade genética, não falta pasto de boa qualidade e suplemento mineral. O manejo nutricional segue um rigoroso protocolo. “A nutrição é muito importante dentro de um sistema de grande pressão de seleção como o da Jacarezinho. Ela é o combustível da genética e ajuda a maximizar os ganhos, seja no pasto ou no confinamento”, destaca Rafael Zonzini, gerente de pecuária da Agropecuária Jacarezinho.

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