As recentes alterações geopolíticas que ocorreram no mundo, cujo exemplo mais expressivo foi o rompimento do Acordo Transpacífico pelo governo dos Estados Unidos, devem gerar grandes oportunidades de negócios para o agronegócio brasileiro.
A constatação foi feita pela vice-presidente global de Assuntos Corporativos da Cargill, Devry Boughner Vorwerk, durante debate no painel Nova Geopolítica do 16º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, nesta segunda-feira (7), em São Paulo.
Outro participante do painel, o sócio da McKinsey Consultoria, Nelson Ferreira, também concorda com a análise de Devry. “As mudanças nos acordos dos Estados Unidos com o México e o Canadá também abrem boas oportunidades para os exportadores brasileiros”, comentou. “Vejo grande resiliência e acredito na contínua capacidade de o agronegócio brasileiro seguir sendo o principal motor da economia brasileira”, completou Devry.
Além dos Estados Unidos, Ferreira avaliou que o Brasil poderia realizar acordos bilaterais com outras nações, como os países da África, do Sudeste Asiático, China e Índia. “Tanto no setor privado como o setor público não pode ter uma agenda isolada, precisa-se buscar uma diversificação, uma melhor amplitude de acordos porque estaremos mais protegidos quanto às oscilações do mercado”, disse. Nos últimos anos, o país, segundo Ferreira, foi um jogador muito passivo nas tratativas dessas negociações. “Com isso, o agronegócio cresceu muito, mas em diversas situações à margem de um acordo bilateral. E isso precisa mudar”, acrescentou.
Rubens Almeida, ex-embaixador e presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), concordou com a opinião de Ferreira e analisou que a política externa comercial inadequada adotada nesses anos fez com que o país não participasse dos acordos e mega-acordos comerciais. “Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), foram mais de 400 acordos comerciais, mas o Brasil participou apenas de acordos com Israel, Egito e o Estado Palestino”.
Presente ao evento, o presidente do Grupo Publique e âncora do Fala Carlão!, Carlos Alberto da Silva conversou com o jornalista das Organizações Globo, Carlos Alberto Sardenberg, que disse que a aprovação das reformas trabalhista e tributária no Congresso são essenciais para o Brasil voltar a crescer.
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=hVoLupyZfF8
Maior participação do agro no BNDES
Os desembolsos de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o agronegócio devem aumentar, podendo chegar a 20% do total da instituição até o ano que vem, segundo o presidente da instituição, Paulo Rabello de Castro.
“No ano que vem, o desembolso para o agronegócio como um todo é capaz de beirar os 20% dos R$ 85 bilhões a R$ 90 bilhões que nós pretendemos atingir de volume desembolsado. Quiçá, R$ 100 bilhões”, disse ele durante o Congresso.
Atualmente, segundo Rabello de Castro, a participação do agronegócio nos desembolsos do BNDES está em torno de 18%, o que considera compatível com a importância do setor.
Premiação
O pesquisador João Kluthcousk, o “JoãoK”, cientista da Embrapa, recebeu durante o evento, o Prêmio Norman Bourlag, pela sua contribuição a agricultura tropical. João K foi um dos idealizadores do atual sistema tecnológico Integraçao Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), hoje já implantado em aproximadamente 11,5 milhões de hectares no Brasil.
Todos os anos a Associação Brasileira do Agronegócio premia uma personalidade com o Troféu Norman Bourlag. O paranaense e agrônomo João Kluthcouski atua na Embrapa desde o início dos anos 1970, na área de fertilidade de solos, desenvolvendo pesquisas com o uso do plantio direto e recuperação de solos. “É preciso agradecer a pesquisa agropecuária brasileira, a todos os produtores brasileiros porque todos fazemos parte disso”, disse o cientista.
Censo agropecuário
Roberto Olinto, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciou, durante sua participação, a realização de mais um censo agropecuário e ressaltou a importância da pesquisa para o país.
A coleta de informações – estima-se que sejam mais de 5 milhões de estabelecimentos pesquisados – que comporão o censo começará no mês de outubro próximo e terminará em fevereiro do ano que vem. Dados sobre agricultura, extração vegetal, silvicultura, criação de animais de grande e pequeno portes, aquicultura, criação de abelhas, bicho-da-seda, beneficiamento e a transformação de produtos agropecuários serão inclusos na pesquisa.
Segundo Olinto, a novidade para a realização deste censo será o uso de tecnologias, de dados geoespaciais e georreferenciais que facilitarão a coleta de informações e a elaboração dos resultados. “Os agentes vão monitorar os estabelecimentos munidos de um computador de mão, e depois essas informações poderão ser cruzadas, gerando mapas e outros dados que podem ser acessados e utilizados em amostragens futuras”, explicou. As informações coletadas serão referentes ao período de outubro de 2016 e setembro de 2017.
A divulgação dos resultados preliminares está prevista para acontecer no ano que vem para quantidade e área total de estabelecimentos agropecuários, uso da terra, maquinários, efetivos da produção pecuária e, a partir de 2018, também serão divulgados os resultados definitivos da pesquisa.
Fonte: Grupo Publique