Modernização e tecnologia para o setor que mais cresce no País  

Por Mylene Abud *

Drones, Big Data, Robótica, Internet das Coisas…Nas mais diferentes áreas de negócios, equipamentos inovadores e com a mais alta tecnologia estão dando o que falar e, no agronegócio – responsável por cerca de 23% do PIB brasileiro – não podia ser diferente.

Em um mundo cada vez mais conectado, a geração de dados é cada vez maior. Ao ligar a rede a máquinas e objetos diversos (computadores, smartphones, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, meios de transportes e uma infinidade de sistemas), a Internet das Coisas ou IoT (Internet of Things, em inglês), promove uma imensa circulação de informações entre equipamentos e pessoas ou entre máquinas, o tempo todo. Mas, o que fazer com esses dados e como usá-los de maneira eficiente?

É aí que entra o Big Data, termo que descreve o imenso volume de dados – estruturados (números) e não estruturados (imagens, mídias sociais etc.), que impactam os negócios em nosso dia a dia. “O importante não é a quantidade de dados, e sim o que as empresas fazem com os dados que realmente importam, com o intuito de tomarem decisões mais ágeis e assertivas”, explica José Alexandre Loyola, Diretor Executivo/CEO da Ready to Market Consultoria e Capacitação, focada em agronegócio.

“De uma maneira geral, este tema se tornou uma verdadeira obsessão por grande parte das empresas de vários segmentos, afinal, como podemos deixar passar despercebida a avalanche de dados e informações que a era digital hoje nos traz?”, questiona Loyola, acrescentando que, a exemplo de outros setores da economia, o Big Data também já está sendo utilizado no agro.

“As ferramentas de Big Data vão contribuir para o aumento de produtividade na agricultura pela capacidade de oferecerem informações mais precisas e específicas para uma melhor tomada de decisão do produtor rural com relação à produtividade e à otimização dos custos de produção”, informa.

No entanto, alerta, muitos empreendedores e executivos estão sonhando com o Big Data sem fazer a lição de casa, que é organizar o Small Data – que pertence à empresa e reúne os seus dados (geralmente, em ERP ou em planilhas de Excel). “Assim como cuidamos de estoques, caixa, imobilizados e recebíveis, devemos cuidar dos dados de vendas e de clientes. Quanto mais limpos, seguros e estruturados eles estiverem, maior proveito pode-se ter para escolher as perguntas certas.

Muitas empresas do agro ainda não fazem o básico, ou seja, usar um dos ativos mais estratégicos que já possuem a seu favor: seus dados primários. Isso porque, hoje em dia, as empresas têm à disposição um arsenal grande de onde coletar informações, mas têm dificuldade de consolidá-las, integrá-las e fazê-las ‘endereçar’ demandas específicas de negócio”, adverte.  “Tendo como base a combinação entre a velocidade, o volume  e a variedade, reunidos, o Big Data deve focar a análise e a inter-relação desses dados, a fim de proporcionar maior poder de decisão para as empresas. Porém, podemos e devemos começar pelos fundamentos, pela base, pelo Small Data”, conclui.

Profissionalizando o campo

“O termo Big Data descreve uma nova geração de tecnologias e arquiteturas criadas para capturar, encontrar, tratar, armazenar e resgatar grandes volumes de dados, permitindo identificar correlações e encontrar relações de causa e efeito antes não vistas e, assim, extrair valor destes grandes volumes de dados.

Esta nova área da tecnologia oferece oportunidades únicas para o agronegócio, uma vez que este segmento da economia representa em média 20% do PIB no mundo, dos quais 30% são indicados como perdas”, conta o professor doutor Luis Hilário Tobler Garcia, coordenador do primeiro curso de graduação em Big Data no Agronegócio, lançado de forma pioneira no Brasil pela FATEC Shunji Nishimura, em Pompeia (SP).

“Uma das razões para que a produtividade média na agricultura brasileira apresente resultados muito abaixo dos recordes registrados e indicados pelo potencial genético das plantas é a grande complexidade do clima tropical. Temos uma grande variedade de solos, climas, culturas, pragas, entre outros, e toda essa variedade, tratada através das técnicas tradicionais, muitas vezes apresenta resultados mediados. Mas as técnicas e ferramentas do Big Data prometem oferecer uma visão mais clara de cada fator envolvido na produção agrícola e, assim, a obtenção de resultados mais próximos aos recordes obtidos”, salienta o professor.

Em sua primeira turma, o curso, que teve início no dia 6 de fevereiro deste ano, tem como objetivo formar profissionais para manusear enormes volumes de dados, de maneira rápida e eficiente, com competência para interpretá-los, a fim de gerar conhecimentos importantes para o desenvolvimento do agronegócio. “A demanda é grande, mas a oferta de profissionais de Big Data no Agronegócio é muito pequena, o que mostra excelentes oportunidades para quem se forma nesta área”, conta o professor.

Durante os três primeiros semestres do curso, os alunos são treinados e capacitados para a obtenção de dados nas mais diversas formas, como por mineração de dados na internet e sensoriamento remoto, com o uso de drones. “Esse equipamento é de grande importância para a formação de nossos alunos, uma vez que os drones permitem a captura de imagens de alta resolução, e estas imagens fornecem um número enorme de dados, definidos pela cor em cada um dos pontos, bem como os dados de geoposicionamento destes pontos”, esclarece Garcia.

Os drones para o Big Data, prossege, são dispositivos capazes de rapidamente fornecer dados atualizados e precisos de uma área de produção agrícola. Essas informações, obtidas dos sensores instalados nestes equipamentos, são analisadas e processadas, permitindo a identificação de padrões e aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos.

Cultivando startups

“Big data é o combustível, é um conjunto de informações colocadas dentro do sistema e que o fazem funcionar. A tecnologia sempre esteve presente no agro. Já utilizamos tecnologia de ponta e temos pacotes de parâmetros antes da porteira, que são as pesquisas”, afirma Sérgio Marcos Barbosa,  Gerente Executivo da ESALQTec Incubadora Tecnológica, órgão que atua junto à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ/USP) como um centro de apoio a empreendedores da área de Tecnologia, ligados ao agronegócio.

“Foram as pesquisas que proporcionaram o sistema de tecnologia de produção, por exemplo, auxiliando no domínio da produção agrícola em uma área inóspita como o cerrado, com a correção do solo, a irrigação etc. E essa tecnologia proporcionada pelas pesquisas evoluiu para os equipamentos da  agricultura digital”, complementa.

Há 11 anos em atividade, a ESALQTec incentiva e dá suporte à criação de startups, micro e pequenas empresas de inovação, para a geração de produtos, processos e serviços que atendam aos gargalos de desenvolvimento tecnológico do setor no País. O órgão trabalha na pré-incubação (modelando negócios), com as empresas residentes ou incubadas (dentro da ESALQTec) e com empresas associadas (que já saíram de lá ou em parceria cm grandes companhias da área). Atualmente, já estão em pleno funcionamento no mercado 12 empresas que surgiram na instituição e, somando as três categorias, 90 projetos estão em andamento.

A ESALQTec é um importante polo de produção e pesquisa do Vale do Piracicaba, área conhecida como o “Vale do Silício” do agronegócio brasileiro. A região, que concentra 38% das startups do estado de São Paulo voltadas para o agro, reúne, segundo Sérgio Barbosa, um conjunto de atores favoráveis ao projeto: universidades, empresas, recursos humanos e local privilegiado para o desenvolvimento da agricultura, entre outros fatores.

Para desenvolver os produtos e as soluções, adverte, é preciso, primeiro, entender as reais necessidades do produtor rural. “O negócio deve ser sustentável e não só do ponto de vista ambiental, mas também socioeconômico, pois ele precisa se manter”, avisa, acrescentando que a capacidade de absorção da tecnologia pelos produtores vai influenciar o sucesso das startups.

Novas empresas, produtos e soluções

“O BIG DATA propõe reunir todos os dados de produção passíveis de mensuração em um só local (banco de dados). A partir destes, análises estatísticas fornecerão informações que auxiliam nas recomendações agronômicas (conhecimento) e na tomada de decisão do produtor”, conta Marcos Ferraz, sócio-fundador da SmartAgri, empresa incubada na ESALQTech e que atua com projetos, experimentação agrícola e consultorias junto a empresas do agronegócio, visando auxiliá-las na inserção de tecnologias em seu negócio.

“Nos próximos anos, a tecnologia nos permitirá coletar uma quantidade de dados tão grande que poderá revolucionar todo o conhecimento agrícola que temos hoje, tais como relações de causa e efeito, efetividade de produtos e técnicas, eficiência de operações e recomendações agronômicas personalizadas para cada região de um talhão, entre muitas outras”, ilustra. E, com a agricultura munida de dados, operações automatizadas garantirão a eficiência dos processos, gerando aumento da produtividade, redução dos custos e dos riscos envolvidos nas operações agrícolas. “O desafio, neste momento, está em instrumentar as máquinas, coletar dados confiáveis e utilizar técnicas estatísticas que possam transformar essa grande quantidade de dados em algo compreensível, que garanta reais benefícios”, completa.

“A SmartAgri surgiu quando percebemos a grande diferença entre o que estava sendo aplicado comercialmente no Brasil e as possibilidades apontadas pelas universidades e os centros de pesquisa em todo o mundo”, fala sobre a startup, que tem como principais clientes empresas de insumos e de tecnologia (softwares e equipamentos), que atuam em todas as regiões do Brasil e no exterior.

Para ele, estar incubado na ESALQTech é estratégico. “A SmartAgri  nasceu no Laboratório de Agricultura de Precisão da ESALQ e a proximidade com a universidade auxilia muito quanto ao acesso e à troca informações com acadêmicos e professores, além da possibilidade de desenvolver projetos de pesquisa em parceria. Além disso, também proporciona um ganho mútuo em termos de contratação de estagiários e formandos. A partir do momento em que nossos projetos demandarem áreas experimentais próprias, naturalmente teremos que partir para outro lugar, mas sempre buscando manter a proximidade com a ESALQ e com outras instituições de ensino e pesquisa”, fala o executivo.

“A agricultura de precisão vai ser a ferramenta para potencializar, por exemplo, o controle biológico, permitindo a aplicação em áreas maiores, a redução de resíduos e da resistência das pragas aos produtos, e, como consequência, aumentando a produtividade”, analisa Marcelo Poletti, sócio-fundador e CEO da Promip, especializada no manejo integrado de pragas e em controle biológico aplicado. A empresa, formada, inicialmente, por duas pessoas como encubada na ESALQTec e que, hoje, está associada à instituição, tem atualmente 100 funcionários, distribuídos em três unidades no estado de São Paulo: o escritório da holding, em Limeira, a Biofábrica, em Engenheiro Coelho, e o Centro de Inovação, em Conchal.

Segundo Poletti, é importante que os técnicos do agro contem com essas novas ferramentas, como Big Data, drones e sensores, entre outros, para agilizar o monitoramento e acelerar a tomada de decisão. “Vamos pegar, como exemplo, os nove milhões de hectares da cultura de cana-de-açúcar no Brasil. Quando o acompanhamento da flutuação da praga-chave, a broca, é feita manualmente, demora muito tempo e o ‘pragueiro’ tem que ficar voltando a campo para checar a cada dois dias. Se o monitoramento for feito de forma remota, com ferramentas como câmeras acopladas a armadilhas, a avaliação é feita em tempo real e no próprio escritório”, argumenta.

Entre as soluções disponibilizadas pela Promip, está a produção de mini-vespas que, ao serem soltas nos canaviais infestados por pragas, localizam e parasitam os ovos da mariposa responsável pela enfermidade. Dos ovos parasitados, ao invés de nascerem mariposas da broca-da-cana, nascem vespinhas, que vão buscar e parasitar outros ovos da praga. E o processo de liberação desses insetos minúsculos e sem ferrão tem sido acelerado com a utilização de drones. “Programados por GPS, os drones proporcionam a ampliação da área e a redução do tempo”, informa, acrescentando que, normalmente, as vespinhas são liberadas em 20 diferentes pontos por hectare. Com o uso dos drones, é possível cobrir 60 hectares por hora, enquanto, manualmente, seria preciso um dia.

Reimaginando a Agricultura

Para Everton Molina Campos, gerente de Comunicação e Inteligência Competitiva da Ourofino Agrociência, estamos, atualmente, vivendo uma revolução tecnológica com a eliminação das barreiras entre o físico e o digital e, com isso, gerando a hiperconectividade entre os seres humanos e as máquinas.

“Vivemos essa transformação em todas as nossas relações e áreas e, com a agricultura, não é diferente. A tecnologia está cada vez mais presente no setor, por isso, um volume enorme de informações fica disponível para auxiliar os produtores nas decisões. Assim, o Big Data surge como uma forma de analisar e trabalhar esse grande volume de informações, desenvolvendo estratégias para auxiliar o agricultor e proporcionar uma melhor produtividade. E os drones podem ser utilizados como fonte de captura de dados, atuando no sensoriamento remoto da cultura, no acompanhamento da safra, na demarcação da área de plantio, na detecção de pragas no campo, no número de plantas por hectare, além de já serem utilizados para a aplicação de defensivos agrícolas, liberação de produtos biológicos etc.”

A empresa, que é uma das associadas da ESALQTech no âmbito do projeto universidade-escola, lançou recentemente o movimento Reimaginando a Agricultura Brasileira,  com o objetivo incentivar e promover o senso de cadeia produtiva, a geração de valor compartilhado e a evolução da agricultura brasileira. “O projeto conduz toda a cadeia produtiva para descobertas, debates, colaboração e, também, para a valorização do setor. Acreditamos na premissa de que um segmento não se desenvolve sozinho e, com base em nossa personalidade colaborativa, estamos reservando espaços para que todos os elos do agronegócio possam compartilhar conhecimento, fomentar discussões e praticar ações que contribuam para o futuro da agricultura”, informa Everton Molina. Atualmente, a Ourofino Agrociência vem trabalhando o conceito em parcerias e eventos mas, futuramente, contará com uma plataforma colaborativa, reunindo geradores de conhecimento e usuários para promover o crescimento da agricultura nacional.

Realidade Aumentada

O investimento em tecnologia em todas as fases da cadeia de produção do agro também é apontado por Paulo Mokarzel, gerente de Marketing da Agroceres, como a única forma de superar os desafios no aumento da produção de alimentos. “A informação é a chave para a viabilização deste crescimento, pois possibilita compreender onde há potencial e pontos para melhoria. Neste contexto, o Big Data é fundamental, pois propicia a acuracidade do conhecimento, visto que usa um grande número de acontecimentos prévios para gerar conclusões. E, com interfaces cada vez mais inteligentes, seu uso facilita o dia a dia, gera soluções antes não pensadas e a comodidade de diagnósticos em tempo real”, exemplifica.

Para ele, tecnologias como drones, realidade aumentada e realidade virtual, também podem ser muito úteis para a ver o negócio, a operação e, até, os detalhes técnicos por outros ângulos.

Para ilustrar os benefícios dessas tecnologias para o setor, a Agroceres promoveu, durante a BeefExpo, realizada em junho, em São Paulo (SP), uma ação para que os presentes pudessem ter contato e experimentar a Realidade Aumentada. “Nossa intenção foi mostrar ao produtor que nos visitou na feira que existe muito para ser explorado em termos de tecnologia, o quanto ela pode ajudar na obtenção de conhecimento. Quem esteve conosco pôde perceber que todo o nosso estande estava equipado com Realidade Aumentada e, onde havia aparentemente apenas imagens, existia muita informação na forma de vídeo.

Entre os benefícios proporcionados às indústrias, ele cita a inserção de informação virtualmente em um cenário real. “Ou seja, se você é um pecuarista e está fazendo uma vistoria em seus animais, poderia, por exemplo, visualizar todos os dados sobre aquele lote em um ambiente virtual, utilizando-se de ferramentas como óculos de realidade aumentada ou simplesmente o seu smartphone. O suinocultor e o avicultor podem fazer o mesmo. As possibilidades são ilimitadas. Frigoríficos podem adicionar informações em cada ambiente da planta, indústrias de insumos e implementos podem acessar informações sobre o cliente enquanto conversam com o mesmo em sua propriedade, técnicos podem analisar insumos e compará-los com amostras anteriores, veterinários podem visualizar o histórico de saúde de cada animal. O maior benefício é aumentar a quantidade e a qualidade da informação disponível para uma conversa em que se tomam decisões importantes. E o resultado disso só pode ser a melhora na produtividade e na rentabilidade do negócio”, resume.

Agricultura e Pecuária de precisão

Assim como a agricultura de precisão, que tem como intuito o gerenciamento mais detalhado de todo os processos envolvidos no sistema de produção agrícola, a pecuária de precisão parte do mesmo princípio: trata-se de uma forma moderna de gerenciar os sistemas de produção animal a pasto, usando os recursos disponíveis com máxima eficiência, para reduzir custo e aumentar a produtividade.

Dentro desse conceito, a Bosch lançou comercialmente, em 28 de junho, a sua Platafoma de Pecuária de Precisão, uma solução de IoT (Internet das Coisas), desenvolvida de forma inédita no Brasil, para analisar a performance do gado de maneira dinâmica e individual, dentro do seu habitat natural e sem a necessidade de transportá-lo para o curral.

“O mundo vive um processo de transformação e o Brasil também quer usar a conectividade e a tecnologia em todos os setores da economia”, disse Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch América Latina, durante o lançamento deste que é o primeiro produto da empresa voltado à pecuária, no dia 28 de junho, em São Paulo (SP). “Essa inovação é um marco na história da Bosch, visto que nos permite contribuir com tecnologia de ponta para que o setor agropecuário brasileiro seja mais produtivo, eficiente e sustentável”, destacou.

Enquanto atualmente o peso dos animais é estimado de acordo com uma média entre várias cabeças, ou individualmente através de pesagens pontuais no curral de manejo, a Plataforma Bosch de Pecuária de Precisão permite o rastreamento individual do animal, com o controle rigoroso da performance e da saúde do gado, da operação da fazenda, além de eliminar desperdícios de recursos naturais e comida dos animais, por exemplo.

“Com o sistema, o pecuarista terá informações valiosas e em tempo real em mãos. Ele saberá quais são os animais de alta performance e os que não estão evoluindo desde o início, seja em um confinamento ou pasto. É possível, ainda, identificar animais com queda abrupta ou progressiva de performance

indicando doença, problema operacional ou nutricional rigoroso da saúde, performance do gado, assim ser mais eficiente no controle da operação e no gerenciamento do confinamento”, explica Gustavo Ferro, gerente da área de Negócios de Pecuária de Precisão da Robert Bosch América Latina.

Outro impacto positivo da inovação é em relação ao bem-estar do animal, que fica menos exposto a situações de estresse e a possíveis acidentes no processo de pesagem tradicional. “Pesar um boi é um processo demorado e estressante para o animal, já que ele precisa caminhar, muitas vezes, longas distâncias até o local de manejo”, complementa.

O sistema é instalado em um corredor individual que, em casos de confinamento, divide a baia em duas partes, separando o cocho e o bebedouro. Já no pasto, o sistema pode ser instalado em passagem de rotacionados ou na entrada de praças de alimentação. Em ambos os casos, o gado circula livremente e seus dados são obtidos por meio da leitura de um brinco eletrônico (RFID UHF) e enviados para uma rede de dados cada vez que o animal passa pelo corredor.

A partir desse momento, a Bosch processa os dados e fornece indicadores-chaves para o cliente. Com a pesagem constante, o administrador consegue verificar, por exemplo, a taxa de Ganho Diário de Peso, a efetividade da dieta, se um dos animais está engordando menos do que deveria etc.

O projeto-piloto foi desenvolvido na Fazenda Santa Fé, do empresário Pedro Merola, localizada na cidade de Santa Helena de Goiás (GO). No local, 22 baias são monitoradas e a projeção é implementar a solução nas demais 244 até o fim do ano.“Com o sistema, você sabe a performance que o boi está atingindo em relação aos demais”, fala o empresário, que considera a plataforma “um divisor de águas” na história da pecuária.

“Fizemos um teste com 697 bois que demonstraram a capacidade de gerar R$ 43,00 reais por cabeça se tivéssemos tomado as decisões apenas olhando a ferramenta. É muito dinheiro! Acredito que isso seja apenas o começo. Conseguiremos aumentar, e muito, a eficiência do confinamento com o uso do sistema”, destaca o proprietário e CEO da fazenda.

Drones…

Desenvolvidos para atuar inicialmente em ações militares, os Veículos aéreos não tripulados (Vants) – conhecidos como drones (“zangão”, em inglês) em razão do zumbido que produzem –  foram, gradativamente, adentrando o setor agropecuário.

“Os drones e os Vants têm estado cada vez mais presentes no meio agro. Segundo pesquisadores da Embrapa Instrumentação, com câmeras especiais e recursos de infravermelho, em um único sobrevôo, pode-se ter acesso à situação precisa e real de cada talhão da propriedade. É possível detectar se a lavoura está sofrendo com estresse hídrico, se um canavial tem falhas de pegamento, se um cafezal está com ferrugem, se o número de cabeças de uma boiada confere com o controle naquele piquete e assim por diante”, fala José Loyola.

O agro, segundo Sérgio Marcos Barbosa, da EsalqTec, foi identificado com um dos três melhores setores para o uso de drones em termos de potencial para a sua utilização. “A geração de imagens localizadas mostra até mesmo falhas na semeadura, déficits hídricos etc., e já existem drones com tecnologia embarcada para a dispersão de agentes de controle biológico. No entanto, adverte: “É preciso tomar cuidado com certos ‘modismos’. É preciso saber se o equipamento (drone) tem a certificação da Anatel – os que vêm de fora, não tem. E, desde fevereiro, existe regramento de uso na área rural.”

“As plataformas automatizadas, como drones e robôs, auxiliam na eficiência e qualidade das operações. Tecnologias de automação, como piloto automático, controladores de dose e sensores, já são comuns e apresentaram melhorias em diversas operações. O que estamos propondo agora é algo ainda mais autônomo, que tornará os processos controlados e eficazes”, pondera Marcos Ferraz, da SmartAgri, ressalvando que essa automatização de nada vale sem que exista um processo eficaz para ser executado. “Por exemplo, os drones são apenas plataformas que irão carregar sensores e equipamentos. É nossa função saber qual equipamento/sensor usar para poder tirar benefício da plataforma que, sozinha, não é capaz de obter os resultados esperados.”

…robôs e sensores

“A área de robótica nos oferece a possibilidade de implementar, de forma automática, as ações antes executadas pelo ser humano. Como conseqüência, há a redução de falhas na execução de cada uma das ações”, afirma o professor Garcia.

Para Marcos Ferraz, da SmartAgri, a tecnologia para a concepção de um robô agrícola já é amplamente dominada pelo Brasil, e algumas empresas possuem máquinas-conceito que realizam trabalhos autônomos. “O que falta, agora, é uma aplicação que viabilize o uso da tecnologia. Não adianta colocar um robô para fazer algo que nós já fazemos de forma eficiente. Em um futuro próximo, com a dificuldade de acesso à mão de obra e para operações mais específicas (principalmente, as que possam causar riscos à saúde), os robôs serão mais utilizados”, reforça.

“Podemos dizer que as colheitadeiras são grandes robôs”, analisa Sérgio Barbosa, da ESALQTec. “Porém, nada substitui o homem, o engenheiro-agrônomo e o técnico.”

Ao lado de drones e robôs, diversos tipos de sensores estão sendo utilizados na agricultura, com várias finalidades. Estas ferramentas podem ser embarcadas nas máquinas que, ao se deslocarem sobre a lavoura, geram informações importantes.  “Sensores de solo podem ajudar a definir o potencial da lavoura antes mesmo de sua implantação; sensores de planta auxiliam o acompanhamento da cultura e o entendimento dos resultados dos processos efetuados”, observa Marcos Ferraz, da SmartAgri, que trabalha com a essa tecnologia.

Os satélites, acrescenta, são plataformas que carregam sensores e monitoram a terra constantemente. “O setor agrícola pode e já está se beneficiando deste monitoramento. Mesmo sem ir a campo, é possível definir estratégias de gerenciamento, acompanhar a lavoura e ajudar a entender melhor os resultados obtidos na área”, completa.

Os drones estão invadindo o campo

 

Transferindo a tecnologia

Apesar de inovadoras e eficientes, nenhuma tecnologia surte efeito se não for disseminada. E esse importante papel pode e deve ser desempenhado pelas revendas agropecuárias.

“As revendas agrícolas têm papel fundamental na disseminação desse conhecimento que tanto almejamos. Afinal, elas são o ponto mais próximo ao agricultor”, afirma Everton Molina Campos, da Ourofino Agrociência.

Com a sua capilaridade alcançando os mais diversos ponto do País e sua familiaridade com o produtor, as revendas reúnem todas as condições para participarem ativamente desse processo. No entanto, precisam se adaptar. “Para as organizações se manterem competitivas neste mercado que oscila a cada dia, elas têm que acompanhar as mudanças que ocorrem ao seu redor. A tecnologia se mostra cada vez mais inovadora e, se as organizações não souberem utilizá-la a seu favor, irão perder seus espaços”, alerta José Loyola, da Ready to Market.

Opinião semelhante tem Marcos Ferraz, da SmartAgri: “As revendas deverão se adequar a essa nova realidade de tecnologia na agricultura. O produtor está cada vez mais conectado (70% deles acessam a internet constantemente), isso significa que estão menos dependentes das revendas para a obtenção de informações. Estas empresas devem atuar para tirar as dúvidas e assessorar estes produtores de forma mais eficiente, aprender a lidar com equipamentos tecnológicos, informações remotas e bancos de dados, para não ficar atrás dos produtores nesta corrida tecnológica”, aponta.

Marcelo Poletti, da Promip, que comercializa parte de suas soluções via lojas agrícolas, também concorda: a participação das revendas no processo pode acelerar a transferência de tecnologia, levando-a de forma mais rápida ao produtor, acelerando os processos no campo.

“Estes não são produtos de prateleira, mas produtos premium, que agregam valor às lojas e que necessitam de suporte técnico pós-venda. Ao contrário dos produtos químicos, que têm validade de dois anos, os biológicos duram de uma semana a 40 dias. Por isso, é necessário um atendimento mais especializado por parte dos revendedores”, ressalta, acrescentando que cabe às empresas capacitarem as revendas.

“As agrorrevendas geralmente possuem uma grande quantidade de soluções para diversos tipos de clientes e a informação é essencial neste tipo de comércio”, assegura Paulo Mokarzel, da Agroceres. E a realidade aumentada se encaixa perfeitamente nesse ramos de negócios. “Imagine olhar para o cliente e ter acesso ao seu histórico de compras, dados de cadastro, localização de suas propriedades, características de sua produção, enquanto conversa com ele? Com o desenvolvimento desta tecnologia, em breve, será possível ter acesso a tudo isto sem precisar de sistemas complexos de ERP, apenas a tela de seu smartphone ou os seus óculos de realidade aumentada. Com o uso da tecnologia, você pode melhorar suas habilidades em marketing, vendas, distribuição e realizar negociações mais inteligentes, cativando seu cliente e mantendo-o satisfeito”, garante.

E as revendas podem atuar até em pareceria com as instituições de ensino. “Para garantir a oferta de problemas reais, o curso de Big Data no Agronegócio necessita de parceiros que ofereçam tecnologias para que nossos alunos utilizem na execução dos projetos, bem como parceiros que se coloquem como clientes destes projetos ou que tragam os clientes finais e seus problemas reais”, assegura o coordenador do curso da Fatec Pompeia, o professor Luis Hilário Tobler Garcia.

*Reportagem da edição 68 da revista AgroRevenda

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