Jovens e mulheres ganham espaço no campo, indica pesquisa

POR RAPHAEL SALOMÃO, DA GLOBO RURAL

O produtor rural brasileiro está otimista em relação ao futuro da agropecuária, mantém o foco na rentabilidade da sua fazenda e se atualiza em matéria de tecnologia. Vê como principais desafios, questões como mão de obra e sanidade. E se mostra mais atento à sustentabilidade, inclusive, na sua cadeia de fornecedores.

São algumas das indicações da sétima edição da Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, divulgada nesta quarta-feira (31/5) pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócios (ABMRA). O levantamento foi feito com 2.835 produtores rurais em 15 Estados brasileiros, sendo 2.115 agricultores e 725 pecuaristas. A margem de erro é de 1,8% com um nível de 90% de confiança.

Os pesquisadores foram às fazendas com questionários de sobre temas como aquisição e uso de insumos e maquinário, utilização de smartphones e redes sociais e hábitos de consumo de mídia, como jornais, revistas e internet. Ao todo, foram percorridos cerca de 60 mil quilômetros, de acordo com os responsáveis pela pesquisa.

Entre os agricultores, produtores de algodão, arroz, batata, café, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, soja, tomate e trigo. Entre os pecuaristas, criadores de bovinos de corte e leite, suínos e aves. Esses segmentos respondem por pelo menos 92% do valor da produção agropecuária do país.

Dos entrevistados, 96% eram homens e 4% mulheres. A maior parte na faixa dos 51 a 60 anos, seguidos pelos com idade entre 41 e 50 anos e de 26 a 35 anos. No geral, a média foi de 46,5 anos, 3,1% em relação à pesquisa anterior, feita em 2013. Para os pesquisadores, um indicativo de que as novas gerações estão influenciando mais a atividade rural.

“Os agricultores mais idosos se mantêm no campo. Porém, o jovem está entrando. O filho está junto com o pai tomando decisões na propriedade”, disse Marcelo Claudino, da Informa FNP, que fez a apresentação dos dados.

Do total, apenas 21% revelaram ter curso superior. A maior parte declarou formação em agronomia (42%). Também apareceram veterinária (9%) e administração de empresas (7%). “Esse processo educacional ainda é lento, mas quando se observa os mais jovens, o nível de escolaridade é significativamente maior”, analisou Claudino.

Informação e tecnologia

Na avaliação dos pesquisadores, o maior acesso à tecnologia diversificou as maneiras como o produtor se informa. Do trabalho feito em 2013 para o atual, a posse de um smartphone saltou de 17% para 61% dos entrevistados. Destes, 77% têm acesso a redes sociais, utilizadas como entretenimento, mas também como ferramenta de troca de informações sobre seus negócios.

“Muitos, especialmente os grandes e medianos, estão ligados a números e fazendo transações”, ressaltou Jorge Espanha, presidente da ABMRA. Claudino, da FNP, completou: “à noite, ele procura entretenimento, mas durante o dia, ele busca informação.”

No entanto, a pesquisa revelou que o produtor não abre mão de formas tradicionais de se informar sobre sua atividade. Em matéria de atualização técnica, por exemplo, o chamado dia de campo foi mencionado como preferência de 54% dos agricultores entrevistados. Outros 22% disseram valorizar a presença em feiras agropecuárias e 16% as palestras.

Entre os pecuaristas, os dias de campo também lideraram a preferência, mencionados por 36% dos pesquisados. Depois aparecem os leilões de bovinos (19%), feiras agropecuárias (18%) e palestras técnicas (17%).

Mulheres

A pesquisa detectou ainda uma maior presença das mulheres nas propriedades rurais. Do total dos entrevistados, 31% declararam que elas ocupam cargos de gerência ou ao menos fazem parte do processo decisório, uma proporção bem maior que a do levantamento anterior, de 10%. Para 81% a participação feminina foi considerada vital (19%) ou muito importante (62%) para a gestão do negócio.

O levantamento mostrou ainda que 59%, as mulheres atuam na gestão de uma forma geral. Depois aparecem administração da propriedade e gestão financeira. No entanto, o nível de escolaridade é baixo: 71% têm apenas o ensino básico e 18% um curso superior.

“O nível de escolaridade da mulher é bem parecido com o do homem. È importante destacar que o produtor moderno valoriza a presença da mulher e essa percepção é semelhante nas pequenas e grandes propriedades”, disse Claudino.

Sociedade urbana

Os pesquisadores quiseram saber ainda como o produtor rural entende que é visto pela sociedade urbana. Para 42%, quem mora nas cidades têm uma visão boa ou ótima de quem vive no campo.

Na avaliação de outros 37%, a imagem do agricultor na zona urbana é regular e para 23% é ruim ou péssima. A maioria disse acreditar que o principal motivo das perspectivas negativas nas cidades é um desconhecimento da realidade do produtor.

“Essa e uma discussão que a gente vem tendo constantemente. Tem se buscado uma melhora da imagem do agro, mas ainda não se tem essa perspectiva de trazer o setor como uma mensagem positiva”, avaliou Jorge Espanha, presidente da Associação, para quem o “sensacionalismo” tem mais espaço do que o que acredita ser “mídia construtiva”.

Questionados se o agronegócio é um setor que se comunica bem com a sociedade de um modo geral, os dirigentes da ABMRA apenas reafirmaram que a discussão é constante e que há oportunidades de propagar o setor de maneira mais positiva. “Precisamos que as empresas se juntem e reforcem isso e o brasileiro perceba que somos líderes. É preciso um grande esforço”, avaliou Ricardo Nicodemus, diretor de pesquisas da entidade.

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