Por Raphael Salomão, da Globo Rural
O mercado brasileiro de carne bovina vive uma mudança no ciclo pecuário, que resultará em maior oferta interna. O confinamento de gado, por sua vez, deve cair em função dos preços mais baixos da arroba do boi gordo. E os recentes escândalos envolvendo a indústria frigorífica têm afetado a confiança de criadores.
A avaliação está em um relatório divulgado, nesta quarta-feira (28/6), pelo banco holandês Rabobank. Os analistas destacam que ainda é cedo para avaliar os efeitos no médio prazo, mas ressaltam que o ano não tem sido tranquilo para o setor no país.
“As exportações de carne bovina do Brasil caíram nos primeiros cinco meses de 2017 em comparação com o período no ano passado, abrindo espaço no mercado internacional. E a recente queda no preço do gado pode levar a uma redução na produção”, resume o relatório.
Em março deste ano, foi desencadeada a Operação Carne Fraca, investigando irregularidades na inspeção de carne nas indústrias nacionais. Depois disso, vieram as delações dos executivos da JBS, “envolvida em uma complexa situação política”.
A situação afetou a relação entre pecuaristas e indústria, explica o Rabobank. Criadores de gado passaram a priorizar empresas que pagam pelo gado em prazos mais curtos. Frigoríficos com capacidade de pagamento imediato recebiam mais animais para abate que o usual, pressionando preços do boi.
“Só em maio, os preços do gado caíram 5%, a maior queda para o mês nos últimos 20 anos”, destaca o relatório do banco holandês.
Os escândalos também afetaram as exportações, lembram os analistas do banco. Restrições importas à carne brasileira em março, por causa da Carne Fraca, refletiram também nos embarques de abril. Em maior, houve uma recuperação, mas, ainda assim, os volumes ficaram menores que em 2016.
No acumulado dos cinco primeiros meses de 2017, as exportações brasileiras de carne bovina ficaram 10% abaixo do mesmo período no ano passado.
China
O relatório do Rabobank não menciona possíveis efeitos do embargo dos Estados Unidos à carne bovina do Brasil, anunciado neste mês. Ressalta, no entanto, a concorrência maior entre os dois países na China, depois do acordo de exportação fechado entre chineses e norte-americanos.
Para os analistas do Rabobank, a chegada de outro grande exportador ao mercado chinês pode criar mais competição. O Brasil exporta carne bovina para o país asiático desde 2015. Os Estados Unidos realizaram neste mês o primeiro embarque do produto depois de 13 anos.
“A expectativa é de que os primeiros volumes sejam pequenos, mas pode se converter em um importante canal comercial no futuro, dando à China a posição de maior importador de carne bovina do mundo”, diz o relatório.
Na avaliação do banco, o acesso ao mercado chinês ocorreu em um momento oportuno para a pecuária bovina dos Estados Unidos. Os outros quatro grandes exportadores – Austrália, Nova Zelândia, Índia e Brasil – estão sendo afetados por limitações de oferta ou rupturas de mercado, o que pode refletir positivamente na demanda pela carne americana.
Nos primeiros quatro meses deste ano, as vendas externas foram o caminho de 10,7% da produção local. A expectativa é de que essa proporção chegue a 11,4% até o final deste ano.
“As exportações geralmente são maiores no segundo semestre do ano. Esse cálculo (de 11,4%) foi feito sem adicionar os embarques diretos para a China. Exportações superiores a 10% da produção trazem a expectativa de um efeito substancial sobre os preços de gado e carne nos Estados Unidos”, analisa o banco.