Nesse momento desafiador decorrente da pandemia da Covid-19, o agronegócio no Brasil tem tido um papel preponderante na manutenção do superávit das exportações, bem como na garantia de alimentos na mesa dos cidadãos brasileiros. As consequências da crise sanitária no mundo e no país estão sendo mensuradas. Para tratar dessas questões, o Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), um dos eventos mais relevantes do universo do agro nacional, vai responder, no dia 3 de agosto, questionamentos importantes referentes às lições que o país tirará com essa crise sem precedentes.
Em coletiva de imprensa virtual sobre o Congresso, promovida nesta quinta-feira, dia 30 de julho, Marcello Brito, presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), disse que a tendência é que o agronegócio continue a obter bons resultados porque, apesar do impacto do desemprego mundial, as economias globais receberam aportes importantes e contam com um capital fluindo. “Isso deve manter o agro nacional, até porque em uma crise econômica, a tendência é a desvalorização do real e o fortalecimento do dólar, o que beneficia o setor”.
Porém, Brito observou que a questão da demanda interna ainda é incerta, pois ela vem sendo sustentada pelo auxílio emergencial, que será finalizado. Além disso, ele ressaltou que alguns segmentos, como frutas, hortaliças e flores, estão sofrendo com a pandemia. O mercado de flores, por exemplo, depende de eventos e festas, que não devem retornar a curto prazo. “As exportações de frutas foram prejudicadas pelo cancelamento dos voos comerciais. Mas, eles são muito resilientes e devem voltar a ter sua importância rapidamente”, afirmou.
Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3, bolsa do Brasil, afirmou que essa crise tem um caráter totalmente diferente e as indefinições foram, no início, muito grandes. “Mesmo não tendo certezas neste momento para a resolver a questão sanitária, já há sinais surpreendentemente positivos no mercado, com vários movimentos tentando amenizar a situação”. Sobre a questão das commodities, o executivo anunciou que “estamos apostando na soja, por isso em breve lançaremos um contrato de soja brasileiro”.
O Congresso Brasileiro do Agronegócio, com transmissão ao vivo pela internet, será diferenciado, com um formato totalmente virtual. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas diretamente no site oficial.
Brito conduzirá, juntamente com o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, a abertura do evento, a partir das 9h00, que terá o pronunciamento da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, do deputado Federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Alceu Moreira, e a mensagem do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
O evento virtual está dividido em três painéis, com uma dinâmica que possibilita a interação entre os debatedores e com o público participante. O jornalista William Waack modera os painéis, que serão formados por um depoimento de importantes personalidades nacionais, seguido por avaliações de especialistas dos segmentos do agronegócio e da economia, da indústria alimentícia, de institutos de pesquisa e do comportamento social e humano.
O primeiro painel O Agro Brasileiro e a Crise Global têm o objetivo de analisar a função do agronegócio brasileiro perante a crise no mundo, se o segmento terá oportunidades de ampliar suas exportações em produtos como a carne e os grãos e quais serão os riscos para o setor nesse período. O depoimento ficará a cargo do Embaixador do Brasil junto à União Europeia, Marcos Galvão, com os debatedores: Grazielle Parenti, presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB e Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil.
“Nesse painel, reunimos um representante de cada setor – exportações (Cargill), produção (OCB) e indústria (ABIA) porque a união da produção do campo, do processamento nacional e da exportação é importante para enfrentar o desafio do agro no mercado externo, sobretudo perante a imagem brasileira nos dias atuais”, comentou Brito.
Já o segundo painel Mercado Financeiro, Seguro e Crédito Rural analisará o impacto da crise do ponto de visita financeiro. De fato, atualmente, existem diversos mecanismos de financiamentos e instrumentos de crédito, além dos bancos tradicionais, como fintechs, operação de barter, os traders, entre outros. Os debatedores poderão avaliar esses instrumentos bem como o Plano Safra 2020/2021, que contará com R$ 236,3 bilhões em recursos, com destaque para os R$ 1,3 bilhão do Seguro Rural, um instrumento importante para garantir a segurança do produtor em caso, por exemplo, de intempéries climáticas.
O depoimento deste painel será proferido por Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, com a participação nos debates de Fábio Zenaro, diretor de Produtos Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3, Ivandré Montiel da Silva, CEO da BrasilSeg e Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA. “São três especialistas de altíssimo nível para falar sobre o setor que se transformou nos últimos doze meses. Aos poucos, o Plano Safra, que hoje representa 30% dos recursos para o agro, deve estar focado para atender mais os pequenos produtores, enquanto médios e grandes produtores serão atendidos por diferentes modalidades do setor privado”, ponderou o presidente do Conselho Diretor da ABAG.
Considerado um dos mais estratégicos dessa edição, o terceiro painel do Congresso Brasileiro do Agronegócio debaterá O Agro e A Nova Dinâmica Econômica, Social e Ambiental. Isso porque há muitas dúvidas se as mudanças decorrentes da pandemia serão duradouras ou passageiras. Além disso, a Europa, por exemplo, tem estipulado que a retomada de sua economia estará ligada fortemente à diminuição do impacto ambiental de suas atividades, mantendo seu compromisso com as metas estabelecidas no Acordo Verde (Green Deal).
Outras questões para este painel são as inovações e digitalização no campo que estão revolucionando o modo de produzir, colher, gerenciar os cultivos e os animais e a mudança no hábito dos consumidores, que estão em busca por alimentos mais saudáveis e ambientalmente responsáveis, com a valorização de mercados nas origens da produção.
“Esse é o painel que representa o tema central Lições para o Futuro, uma vez que reunimos ciência, economia, meio ambiente e sociedade”, afirmou Brito. Por isso, o painel terá o depoimento de Celso Luiz Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), com os especialistas no debate: André Guimarães, diretor Executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPAM / Coalizão Brasil, José Roberto Mendonça de Barros, sócio diretor da MB Associados e Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha de São Paulo.
O presidente da ABAG também será responsável pelo encerramento do Congresso Brasileiro do Agronegócio junto com o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atual coordenador do GVagro da FGV.