Por Cristina Simões Cortinhas, Médica Veterinária, Supervisora de Inovação e Ciência Aplicada Ruminantes da DSM e Tiago Sabella Acedo, Zootecnista, Gerente de Inovação e Ciência Aplicada Ruminantes da DSM
O sucesso na pecuária leiteira depende de diversos fatores, mas um que merece especial atenção é a criação de bezerras saudáveis. O manejo inadequado das bezerras pode causar prejuízos não só pela perda de animais, como também pelos dispendiosos gastos com medicamentos. Nas primeiras semanas de vida, as bezerras apresentam alta susceptibilidade a infecções, causadas principalmente pela baixa imunidade, que se agrava quando a colostragem é inadequada ou quando ocorre algum estresse ambiental ou comportamental, e resulta em taxas de mortalidade de até 30%. Neste contexto, a diarreia representa uma das principais causas de mortalidade de bezerras pré-desmame. Atualmente, tanto na prevenção quanto no tratamento da diarreia, a ferramenta mais utilizada é o antibiótico.
Um dos antibióticos mais utilizados na pecuária leiteira é a monensina. Classificada como antibiótico ionóforo, a monensina tem sido muito utilizada em nutrição animal com o objetivo de melhorar a eficiencia alimentar. Adicionada à dieta das vacas, a monensina restringe o crescimento de bactérias gram-positivas, modulando a fermentação ruminal e disponibilizando mais energia para a produção de leite. Na alimentação de bezerras, a monensina tem sido utilizada adicionada ao concentrado, para prevenir a coccidiose, doença causada por um protozoário que parasita o epitélio intestinal causando diarreia líquida, de coloração escura, odor forte e presença de sangue e/ou muco, resultando em alta taxa de mortalidade e redução no desempenho das bezerras. O mecanismo de ação da monensina consiste na formação de complexos lipossolúveis, com íons de sódio e potássio que aumentam a permeabilidade das membranas celulares a tais íons e, também, ao íon de hidrogênio (H+), produzindo um desequilíbrio osmótico, levando à ruptura da membrana e à morte dos microrganismos. No caso de eimeria, parasita causador da coccidiose, a monensina parece atuar de forma mais eficaz nos oócistos. Além de atuar no controle de diarreias, outro possível benefício da utilização da monensina pode ser o aumento na produção de propionato, que é o principal estimulador do desenvolvimento ruminal de bezerros, embora haja, concomitantemente, uma redução de butirato.
Apesar de promissora, a utilização dos ionóforos na dieta das bezerras em aleitamento pode causar redução no consumo de matéria seca, o que pode interferir no desempenho e atrasar a desmama das bezerras com manejo de desmama por consumo.Os resultados de estudos com a utilização de monensina no desempenho de bezerras têm se mostrado inconsistentes. Em estudo realizado para avaliar os efeitos da adição de três coccidiostáticos (decoquinato, lasalocida e monensina) no concentrado de bezerros leiteiros, Nussio et. al (2002) observaram menor consumo e menor ganho de peso dos bezerros que consumiram o concentrado com monensina. Este estudo foi realizado no Arizona, onde o clima quente e seco e o bom manejo reduziram as chances de aparecimento de coccidiose e, consequentemente, da necessidade de utilização dos coccidiostáticos. Em outro estudo realizado no Brasil, Nussio et. Al (2003) avaliaram o processamento de milho (floculado vs. laminado a vapor) com e sem adição de monensina, para bezerras leiteiras no pré e na pós-desmama precoce. Neste estudo, não foi observada a redução de consumo ou a melhora no desempenho das bezerras que consumiram monensina. Assim, mesmo que a monensina seja reconhecidamente eficaz no controle dacoccidiose, seu uso deve ser criterioso, levando-se em consideração se a coccidiose realmente é um desafio local.
Devido à crescente preocupação com o risco de desenvolvimento de resistência microbiana e com a segurança alimentar, novas alternativas aos antibióticos, como os óleos essenciais, têm sido estudadas no controle da diarreia de bezerras. Os óleos essenciais, compostos voláteis extraídos de plantas por solventes destilados, podem ter efeito flavorizante, estimulante da secreção enzimática, além de ter atividade antioxidante e antimicrobina. Estes compostos, apesar de também atuarem como antimicrobianos, não são classificados como antibióticos e não causam os problemas de susceptibilidade à resistência microbiana. Em aves e suínos, o uso de óleos essenciais tem demonstrado melhora no equilíbrio da microflora intestinal, aumentando a proporção de bactérias benéficas e reduzindo as quantidades de bactérias patogênicas. Além disso, os óleos essenciais nestes animais têm demonstrado estimular o animal a produzir mais enzimas digestivas.
O mecanismo que parece melhor explicar a ação dos óleos essenciais é o de interação com a membrana celular e desestabilização da célula, de modo análogo ao supracitado para os inóforos. No entanto, outros mecanismos, como a inibição da síntese de RNA, DNA e proteínas, também têm sido sugeridos. De forma geral, os produtos comerciais utilizados na nutrição de ruminantes são compostos não por um óleo essencial, mas por um blend de óleos essenciais, cuja atividade antimicrobiana está ligada com diversos alvos celulares.
Um estudo para a avaliação da adição de um blend de óleos essenciais da DSM (CRINA® Ruminants – Timol, eugenol, limoleno, vanilina),monensina e probiótico (Cylactin- Enterococcus faecium), realizado na Universidade Federal de Viçosa, em parceria com o grupo de pesquisa do professor Marcos Marcondes, foi finalizado recentemente. Neste estudo, os tratamentos foram adicionados ao concentrado que foi fornecido ad libitum a cinquenta bezerros holandeses (25 machos e 25 fêmeas), desde o sexto dia de vida até a desmama (60 dias de vida). Avaliações de consumo, desempenho, escore fecal e identificação de bactérias intestinais foram realizadas do período em que os animais estavam sendo suplementados (de aleitamento) até 15 dias pós-desmama. No período pré-desmama, tanto os bezerros tratados com o CRINA® quanto os tratados com a Monensina, apresentaram melhor consistência fecal do que o grupo controle. No entanto, o consumo de concentrado do grupo de bezerros tratados com o CRINA® foi maior do que o do grupo tratado com a Monensina. Nos 15 dias pós-desmama, os dois grupos de bezerros – tratados com o CRINA® e os tratados com a Monensina – apresentaram maior Ganho de Peso Diário do que o grupo de bezerros controle (sem aditivos).
Um resultado economicamente muito importante e que chamou muito a atenção neste trabalho foi a eficiência alimentar, que é a relação entre consumo e ganho de peso dos animais. Os bezerros tratados com o CRINA® apresentaram maior eficiência alimentar do que os bezerros dos grupos controle e monensina, durante o período após a desmama. Os dados deste estudo, que são bastante promissores, estão sendo preparados para publicação.
Recentemente, a DSM lançou dois produtos, o Brovigold Prima e o Bovigold Recria, para animais em lactação e do desaleitamento até a primeira reprodução, que, além da inclusão do CRINA®, têm em sua composição Vitaminas em Níveis Ótimos (OVN – Optimal Vitamin Nutrition) e Minerais Tortuga, para melhor saúde e desempenho animal.
Fonte: Grupo Publique