Levantamento feito pelo centro de estudos da USP conclui que os ganhos são muito superiores em fazendas que usam a genética Senepol, chegando a uma receita por área 470% maior em sistemas de cria.
Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da ESALQ/USP, saíram a campo em busca de respostas para uma pergunta: o uso de touros Senepol permite a produção de animais de mérito genético superior e, portanto, com maior valor agregado? Para chegar a essa resposta, eles percorreram propriedades de cria, recria e engorda localizadas nos principais estados produtores de carne do País, que são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará.
O Cepea fez o levantamento de dados zootécnicos dos rebanhos que, após analisados e comparados aos de propriedades convencionais, foram transformados em dados econômicos e mostraram as vantagens da introdução da raça Senepol no rebanho. “O estudo ajudou a comprovar que, aplicado dentro de um nível tecnológico adequado, o uso de reprodutores da raça Senepol permite a produção de animais de mérito genético superior e com maior valor agregado. Quando inserida em um sistema de produção adequado, a genética da raça traz vantagens em comparação a sistemas convencionais de produção, como um melhor desempenho na fase de recria e terminação, devido à heterose, quando utilizada em conjunto com matrizes zebuínas”, esclarece o pesquisador do Cepea, Sergio De Zen, responsável pelo estudo.
Para quem trabalha com Senepol na cria, verificou-se uma taxa de desfrute 43% acima dos rebanhos das fazendas típicas (modais) das regiões avaliadas. Isso representou 50,9% mais bezerros vendidos por hectare e 190,4% mais arrobas vendidas por hectare. O peso à desmama foi 30% superior, apesar de a idade dos animais ser igual (7,8 meses). Os produtores conseguiram, ainda, uma taxa de lotação 61% acima das modais. Esses dados, transformados em índices econômicos, representaram uma receita por área 470% maior, uma margem líquida (receita-COT) 439% maior por unidade de área e 262% maior por bezerro comercializado. “Os resultados foram amplamente favoráveis à introdução da raça, com vantagens significativas do ponto de vista econômico nos três biomas que analisamos, o Amazônico, o Pantanal e o Cerrado”, informa o pesquisador do Cepea.
As fazendas que trabalham com animais cruzados Senepol em sistemas de recria e engorda também apresentaram bons índices econômicos. Na média, o ganho de peso foi 91,4% acima do modal e com uma taxa de lotação 12,81% maior. Com esse reforço na balança, a taxa de desfrute também teve bons resultados, ficando 95% acima, garantindo 62,7% mais arrobas produzidas por hectare e 119,4% mais arrobas vendidas por hectare. Por outro lado, a idade de abate foi 30,1% menor. Em termos econômicos, isso significa que a rentabilidade das fazendas que usam a genética Senepol foi maior. A receita por área ficou 149% acima das propriedades típicas, com uma margem bruta 72% maior por hectare e uma margem líquida 8% maior por hectare.
Esses números verificados nos sistemas de recria e engorda sinalizam que a raça é altamente competitiva no mercado de carnes, inclusive no nicho de carnes nobres. “Para os produtores que utilizam a genética da raça em seus rebanhos, é notável a presença de programas de bonificação para animais meio-sangue, além do crescimento de interesse do mercado por animais tricross. Dessa forma, existe o potencial crescimento de interesse de determinadas regiões por tais animais. Outro potencial mercado é o de exportação de animais vivos para países do Oriente Médio, que também têm interesse por animais de cruzamento industrial”, assegura De Zen.
Partindo da premissa de ter dados confiáveis para tomar decisões, a ABCB Senepol vem firmando parceria com renomados centros de pesquisas econômicas, como o Cepea e a Scot Consultoria, para analisar a contribuição econômica e zootécnica da raça. O presidente da associação, Pedro Crosara, esclarece que os resultados dos levantamentos estão norteando tanto o Programa de Certificação da Carne Senepol quanto o Programa de Melhoramento Genético da raça, o PMGS. “Estamos mostrando, com dados concretos e isentos, as vantagens econômicas do uso da genética Senepol em sistemas de cria, recria e engorda. Com isso, todo mundo ganha. Desde o pecuarista, ao receber um valor acima do mercado pelo produto entregue ao frigorífico, a indústria, com condições de abater o volume de animais necessários para a produção de carcaças de qualidade e, na ponta final, o consumidor, que encontrará com regularidade carne nobre para comprar”, afirma Crosara.
Segundo o pesquisador, a raça representa uma possibilidade a mais em termos de genética para o pecuarista brasileiro. “O produtor, quando passa a usar uma raça com genética conhecida e selecionada, agrega automaticamente valor à produção, elevando a produtividade do seu rebanho”, conclui o pesquisador do Cepea.