Houve uma época em que a pista de julgamento de zebuínos era a forma de testar o máximo potencial produtivo da genética Nelore. O rigor era total para avaliações como aprumos, habilidade materna, fertilidade e peso de abate ideal sem perda da funcionalidade do animal, para que ele chegasse à vida adulta produzindo os melhores resultados em regime de pasto.
“O Nelore sempre foi a raça-matriz produtora da carne bovina consumida no Brasil. É reconhecida por sua extrema adaptabilidade ao clima tropical e por produzir vacas com excelente habilidade materna, que parem sozinhas e desmamam bezerros vigorosos, pesados e com ótimo rendimento de carcaça, além de touros capazes de caminhar por todo o pasto. Infelizmente, não é o que vemos hoje”, avalia Paulo Leonel, diretor do Grupo ADIR e diretor comercial da recém-criada Associação do Nelore Brasileiro (ANEB).
A proposta da nova associação não é concorrer com as demais entidades representativas já existentes, mas apenas resgatar a pista como uma referência na seleção. “Queremos reconectar a pista com aqueles criadores que participavam das exposições, preocupados em nortear a pecuária nacional, e se afastaram dela por conta de todo o artificialismo praticado atualmente. Nas mostras homologadas pela ANEB, nós mostraremos o gado Nelore que o Brasil realmente precisa, ou seja, um animal com peso, padrão, equilíbrio e tipo normais ao gado Nelore de campo”, explica Fernando Zamora, proprietário da Fazenda Brasil e presidente da ANEB.
Para tanto, a ANEB já oficializou sua primeira exposição, a EMAPA (Exposição Municipal Agropecuária de Avaré), que reuniu 90 animais no começo de dezembro, no interior de São Paulo, onde os criadores presenciaram um novo modelo de julgamento. “Nosso grande diferencial é que a gente não pratica artificialismos e não limita a idade do animal para participação no julgamento. Da forma que acontece hoje, macho concorre até os 30 meses e a fêmea até os 42 meses. Na ANEB, machos e fêmeas poderão participar até os 82 meses”, explica Antônio Carlos de Souza, jurado efetivo e membro do Conselho Técnico da associação.
Novo modelo de julgamento – Segundo os organizadores, essa decisão foi tomada porque defendem ser necessário acompanhar o desenvolvimento do Nelore PO por um período mais prolongado. “Hoje, tornou-se comum vermos animais chegando à vida adulta com aprumos tortos e inférteis. Um exemplo são as fêmeas jovens. Elas vencem os campeonatos Novilha Menor ou Maior e nunca mais voltam para a pista porque não emprenham. Tudo isso por excesso de trato. Ninguém deseja uma genética dessa no seu plantel”, aponta Antônio Carlos, que ainda caracteriza como insalubre à atividade a frenética corrida para conquista do topo do Ranking Nacional.
A exposição da ANEB em Avaré conquistou apoio de uma gama de expositores, entre eles Eduardo Biagi, da Fazenda Carpa Serrana, ex-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ); Nelore Vila Real, assim como os criadores João Batista Andrade, José Ricardo Benato, Guto Junqueira, Adir do Carmo Leonel e muitos outros. A ANEB possui 40 associados espalhados por todo o Brasil. “Necessitamos oxigenar a pista, dando oportunidades iguais a todos aqueles que possuam gado bom para expor e condizente com as reais necessidades da pecuária nacional”, conclui Leonel.