Companheiro de algumas das primeiras ‘andanças’, conheci o Carlão no final de 1987, quando ele mesmo veio ao meu encontro, na plataforma da rodoviária do Tietê, em São Paulo, onde embarcaríamos no ônibus leito para Campo Grande, MS. Eu, pela DBO, ele, pela Disbrapel – Revista dos Criadores, íamos acompanhar um dos últimos leilões Nova Índia, do nelorista Lúcio Costa.
Nestes mais de 25 anos, na mesma medida em que reduzia as minhas viagens, boa parte em função dos compromissos da direção executiva da DBO, as ‘andanças’ do Carlão só se intensificaram. A agência Publique, que fundou com Nilton Cândido e Fábio Fatori, em 1988, e da qual, depois, se tornou único dono, é referência em comunicação rural e foi a principal protagonista do período áureo do marketing e da propaganda das raças bovinas de corte, até meados da década passada.
As crônicas, que além de publicadas no jornal de sua Porangaba, SP, passaram a compor o boletim semanal ‘Publique News’, honram com perfeição o título ANDANÇAS; em algumas delas, dá para ficar cansado pelo Carlão. O que elas não cumprem é a proposta “de falar de marketing rural”, revelada no primeiro texto, mas, a bem da verdade, sem muito compromisso. Com a vaga promessa
de ‘talvez’ retomar o tema, Carlão pede licença para voltar ao bairro dos Mirandas – “terra que me viu nascer” – para falar de amizade e valorização das raízes. E é disso que ele trata na maioria dos textos, transitando com naturalidade por universos tão distintos e revelando-se nos pensamentos e sentimentos, o que até lhe valeu mensagem eloquente da jornalista Gê Alves, de Sacramento, MG,
no capítulo “Uma carta recebida”.
O Marketing Rural, do qual é craque, fica nas entrelinhas. Afinal, é ele que justifica tantas andanças.
Ao fazer um balanço de seu 2007, Carlão confessa que só passou quatro finais de semana em casa, foi 21 vezes a Uberaba, rodou mais de 80 mil quilômetros, e viajou 120 horas de avião; sim, uma pequena parte dessas horas e dessa quilometragem em férias, hábito que preza e luta para preservar ao lado da companheira Vera. Há uma fartura de relatos desses períodos de relaxamento e enriquecimento cultural.
Alguns carregados de emoção, como o da viagem com o sogro e amigo Zezinho Varela, já nos seus 82 anos, para conhecer Portugal, de onde veio com apenas dois anos, quando os pais emigraram para o
Brasil, em 1920.
Mesmo tendo saído cedo de Porangaba para morar em São Paulo, onde concluiu o ensino fundamental e seguiu o curso de Técnico Agrícola para, depois, formar-se em Jornalismo pela PUC e se tornar o publicitário de renome que é, Carlão revela um baú de reminiscências de seu tempo de menino. Uma
delas, em especial, me traz a mesma gostosa lembrança, no sentido mais amplo do termo: a caneca de
café oferecida pelo pai, ao pé da vaca, com o leite espumante tirado na hora.
Em meio a tantas ‘andanças’, vez por outra também emergem declarações de intenções, como a de fixar residência em Porangaba, em tese cumprida, e outras a cumprir, como correr menos, ter “algum sossego, alguma paz, tempo para se dedicar ao ofício de escrever e relatar o que se passa no entorno de minha vida”.
Sucesso sempre, Carlão!
Demétrio Costa | Diretor Responsável Revista DBO