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Agricultor deve olhar para a planta como o pecuarista olha o gado

Pesquisador fala da importância do controle de fatores bióticos e abióticos na lavoura para alcançar altas produtividades

“No caso de quem produz leite, a unidade de produção é a vaca. Então, se cada animal consegue dar de 20 a 30 litros, com 100 vacas o pecuarista tem uma produção satisfatória. Mas o que a vaca precisa comer para alcançar essa produtividade?”, pergunta Sérgio Abud, pesquisador da Embrapa Cerrados. Para ele, a mesma importância dada à vaca pelo pecuarista deveria ser dada à planta pelo agricultor.

Considerando que, em média, um metro quadrado de lavoura de soja tem 26 plantas, a perda de dez plantas por metro quadrado resultaria na produção de apenas 38,5 sacas/ha. “É preciso se preocupar com isso. A planta é a nossa unidade de produção”, diz o pesquisador.

Segundo ele, assim como é possível atender às necessidades dos animais, existem formas de controlar os estresses das plantas. Estresses esses que são causados basicamente por fatores abióticos (seca, inundações, compactação do solo, salinização) e bióticos (ação de pragas, ervas daninhas, doenças).

Perfil do solo – Usando o exemplo das fazendas campeãs de produtividade no desafio promovido pelo Comitê Executivo Soja Brasil (Cesb) na safra 2015/2016, Abud mostrou como superar grande parte dos desafios abióticos. É só olhar para a raiz: “A média de profundidade das fazendas ganhadoras do Cesb não é de 20 cm, mas de 60 cm, o que colabora para alcançarem produtividade acima de 90 sacas de soja/ ha”.

Desempenho considerado excepcional, o resultado é reflexo de muito trabalho, que leva tempo para ser construído. “Na Fazenda Gaio, em Correntina, na Bahia, por exemplo, o plantio de soja, milho e arroz começou em 1989. Mais tarde, foi adotado sistema de consórcio milho-braquiária. Então, o plantio de algodão. Em função do problema do bicudo, que se tornou limitante da cultura na região, voltaram a plantar milho e braquiária. Hoje, a produtividade na fazenda é de 82,79 sacas de soja/ha não à toa”. Segundo o pesquisador, a rotação de culturas promove o equilíbrio de fósforo, matéria orgânica, potássio, cálcio, magnésio e micronutrientes ao longo do perfil do solo. “E, nesse caso, o potencial era ainda maior, de 100 sacas/ha, que é o que se consegue em algumas fazendas da região, mas o déficit hídrico provocou essa baixa”.

Em situações de estresse hídrico, qualquer outra propriedade não teria ido tão longe. Comumente usada no Brasil, a adubação a lanço por anos consecutivos têm se mostrado um veneno para o solo. “O que estamos observando é que com essa forma de manejo os nutrientes ficam concentrados em profundidades de 0 a 10 cm, o que cria um problema de salinização e acúmulo de argila na camada próxima à superfície”. A consequência é o impedimento químico e físico da penetração das raízes e, com a falta de chuvas, o ressecamento do solo e a morte da planta.

Fatores bióticos – Assim como os fatores bióticos, os abióticos são de suma importância para alcançar metas de produtividade. O que não quer dizer que recebam toda a atenção devida. Nesse sentido, Abud lembrou da necessidade de adotar melhores práticas de controle de pragas, doenças e ervas daninhas para que as plantas possam expressar todo o seu potencial genético. “Isso vale para variedades resistentes, vale para cultivares Bt”, afirma.

Como destaque, lembrou do papel do controle biológico no manejo integrado de pragas e da necessidade de o produtor abandonar a aplicação calendarizada de agroquímicos na lavoura, dizendo ainda que é essencial que o monitoramento das populações seja feito para aumentar a durabilidade e eficiência dos produtos.

“Hoje, quando planta soja, o produtor planta com a expectativa de colher 100 sacas/ ha. Mas por que não colhe? Não colhe por conta de problemas ligados a insetos, pragas, competição, adversidades climáticas”. O que não é desculpa para não continuar evoluindo: “Afinal, tem muito que ele pode fazer em termos de manejo do solo e controle de invasoras para aumentar sua produtividade”.

A apresentação dos dados aconteceu durante o III Simpósio Agroestratégico organizado pela Aprosoja, em Cuiabá, MT.

Fonte: Portal DBO