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Acordo Mercosul e UE: espaço para novos cortes

O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, pode aumentar o volume da proteína vendida aos países europeus nos próximos cinco anos graças à diminuição gradual nas taxas prevista dentro do acordo comercial firmado entre o Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) e a União Europeia. A previsão, já manifestada pelo Presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC), Jorge Camardelli, foi reforçada pelo Diretor do Serviço Brasileiro de Certificações (SBC), Sérgio Ribas Moreira, durante entrevista ao programa Giro do Boi, no Canal Rural, nesta semana, em São Paulo.

“A indústria vem remunerando melhor o boi que vai para a Europa, mas apenas cinco cortes de cada animal abatido são comercializados neste mercado. Estou bastante otimista. O impacto do acordo vai demorar ainda uns dois ou três anos para começar a trazer resultados, por causa da necessidade da aprovação nos parlamentos dos países, mas certamente vai aumentar os embarques em torno de 10 e 12%. E isso vai puxar o interesse dos produtores brasileiros pela integração ao protocolo SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos), exigência para atender este mercado. E, lá na frente, outros cortes, menos valorizados e que hoje não têm espaço, vão interessar aos compradores”, analisou Sério Ribas.

O Brasil possui cerca de 1.700 fazendas habilitadas à exportação para a Europa. Em 2018, foram 4,2 milhões de animais rastreados dentro do Sisbov, cerca de 12% do total de bovinos abatidos anualmente. O SBC certificações é responsável por metade deste total. No geral, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram 25,5% no primeiro semestre deste ano. O país embarcou 827 mil toneladas de janeiro a junho, contra 658,8 mil toneladas vendidas no mesmo período de 2018. O faturamento atingiu US 3,12 bilhões, 16,2% acima dos primeiros seis meses do ano passado.

Segundo a ABIEC e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), a comercialização com o mercado europeu gira em torno de 120 mil toneladas anuais. Basicamente, cinco cortes nobres da carcaça, algo perto de oitenta quilos por animal. E um faturamento de US$ 730 milhões. Outra fatia do mercado da EU, de 10 mil toneladas, poderia ser ocupada dentro da chamada Cota Hilton, que tem exigências diferenciadas em relação ao Sisbov, mas o Brasil não consegue atingir mais do que 40%.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) vem transferindo nos últimos anos os processos de certificação para agentes como a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). A ideia central da União é que o governo federal cuide preferencialmente da fiscalização sanitária dos alimentos, deixando protocolos, habilitações e certificações com o mercado e as entidades representativas. “O Sisbov amadureceu bastante na última década. A nova instrução no fim do ano passado tornou o processo menos burocrático. Acho positivo, a CNA está se aproximando, possui um bom sistema. Atualmente, a indústria vem demandando, o pecuarista pode receber até quatro reais a mais por arroba, dependendo do sistema produtivo. E hoje os outros cortes do animal seguem para outros grandes mercados como o asiático. Com o acordo, a indústria vai poder premiar mais ainda o pecuarista. Além de outros prêmios, como os vários protocolos dos frigoríficos”, reiterou o diretor do SBC.

Durante a entrevista, Sérgio Ribas também assegurou que a identificação individual dos rebanhos é um investimento que vale a pena, além de levar outros ganhos às propriedades. “Eu costumo dizer que o fazendeiro tem dois ganhos. O sobrevalor que ele recebe da indústria. Um boi de 20 arrobas vai pagar 60 reais a mais só no boi Europa. Não passa de 10% dos investimentos. E, em segundo lugar, o que a gestão do processo de certificação traz para a propriedade, a melhoria da gestão. A adesão ajuda com o levantamento dos índices zootécnicos, a motivação e o engajamento da equipe, a melhoria na negociação com a indústria. É uma ótima oportunidade para ter condições de negociar a arroba com as plantas, exportando ou não. Uma mudança de patamar, principalmente agora, com margens tão apertadas”, concluiu.